Ainda na série dos homens da minha família, vai esse post.
Minha bisavó Rosa Pretzel eu tenho uma boa idéia de quem tenha sido. Inteligente como todas nós, prática como minha avó, dedicada por obrigação mais que por vocação às tarefas domésticas do início do século, quando ainda se comprava frango vivo. Parceira do meu bisavô nos negócios, ao menos nominalmente, como atestam os documentos oficiais, e entendida dos riscos desse negócio, como contamos em outro lugar.
De acordo com minha mãe, trabalhava feito uma moura durante às ausências do marido, que voltava “pra lhe fazer mais um filho”. Incutiu nas três filhas um horror ao trabalho doméstico que os tempos modernos ajudaram a dar sentido. Minha avó fazia almôndegas ao molho de tomate, e pronto. Sua culinária era isso. Viajava à Europa – “fazia a Europa”, lia, costurava, passava pó de arroz, enfim, cumpria com as exigências do papel feminino mas fazia questão de tirar dele o trabalho pesado. Tinha uma receita de gefilte fish e rolgales – doces polacos – mas esses eram feitos com alegria, estavam em outra categoria de atividades.
A Adélia, a segunda filha, rejeitou completamente tudo o que fosse doméstico, inclusive a maternidade. Só lá pelos 80 é que se deu conta: “Agora entendo a Carlota… Agora entendo a importância das coisas da casa.” Já falei dela em outros lugares, por hoje é só. Está bem, lá vai: passou um verão todo lendo Platão, para desespero de minha avó, que querendo ou não ajudava a mãe nas tarefas domésticas. Entrou na primeira turma de filosofia da USP. Quem diz que as famílias judias e italianas são iguais mente. As judias cozinham amaldiçoando a tarefas e se perguntanto o que fizeram para merecer esse fardo, enquanto os homens se divertem lendo a Torá.
E a Leonor, do feminino, valorizou o romance e a beleza. Que eu saiba saiu pela tangente do serviço doméstico tão bem quanto as outras duas. Por forças das circunstâncias, teve que trabalhar e se desimcumbiu muito bem na tarefa. Mas se me recordo dela com um vestido azul royal até o joelho e não com a barriga no fogão deve haver um motivo.
Mas quem era a Lea Pretzel, de quem a Leonor herdou o nome? Quem eram os pais da minha bisavó? Desses não sei nada. Desses não vou poder fazer retrato algum para vocês. Hoje, pela primeira vez, visitei seus túmulos, que foram transladados recentemente para o cemitério do Embu, tirados aqui do cemitério da Consolação, onde eles haviam sido enterrados em 1913 e 1915. Fomos no descerramento do túmulo de um amigo de meus pais, e ao final demos uma escapadinha para fuçar os túmulos dos tataravós. Pensei que haveria dezenas de túmulos, mas havia apenas uma ou duas dúzias. Esses, então, foram os primeiros judeus em S. Paulo? Wow, então nossa família veio no Mayflower, falei ao meu irmão.
Estavam lá os túmulo dos dois, e ao lado as lápides antigas, em pedra branca, como é hoje, com nomes em português e hebraico. Sei que chegaram em 1889, que tiveram um monte de filhas, algumas na Europa e outras já aqui, e que por isso o sobrenome Pretzel não vingou no Brasil. Mas devem ter um montão de descendentes, pois as filhas iam casando com imigrantes que chegavam sozinhos, como meu bisavô. Imagino que as moças deveriam ser bom partido, já sabendo bem a língua local. Mais, não sei. Vi uma vez uma foto grande dos dois, e acho que reconheceria meu tataravô se visse a foto novamente. Sei que quando meu avô se cansava de minha avó ele dizia:
“Mas você é mesmo uma Pretzel!” E é só isso que sei.
como poderei entrar em contato contigo,
fui grande amigo de teu pai
arquiteto Ennes silveira Mello.
Olá Ennes!
Meu email é heloisa.pait@gmail.com! Para mim seria um prazer falar com você!
Abraços,
Heloisa