Houve um pequeno motim no meu curso, na semana passada. Não escrevi aqui pois não encontrei o tom apropriado, mas digo apenas que se tratou de um motim virtual, não havendo em sala de aula muito mais que pedidos de esclarecimentos da metodologia e de ajustes cotidianos em prazos e coisas assim. Enfim.
Ontem a aula foi bem tranquila, apesar de que na parte da manhã ter sido um pouco esvaziada por um protesto que fechou uma rodovia aqui de Marília. À noite, tentando explicar Peirce, dei um exemplo de infância. Uma vez, no apartamento onde moro, meti um clip de metal na tomada. Deu choque e tirei o braço da tomada. Isso é a reação. Logo devo ter conjecturado que a tomada tem alguma força que faz dar choque, e isso é pensamento. Mas meu pai trabalhava à mesa ao lado e virei meu rosto para ele, com apreensão. Isso já é uma empatia, uma capacidade de imaginar o que os outros sentem e pensam. Minha apreensão era menor pela bronca possível que pela queda no conceito, que eu considerava provável. Medo que meu pai me achasse tola.
Mas a reação do meu pai foi distinta. “Eu já fiz isso também! Na sua idade, meti um metal na tomada, deu um choque! Que maravilha, Guga”, ele completou, e eu não expliquei mais na aula pois uma aluna me interrompeu:
“Ele disse isso?” A aluna tem a minha idade, com filhos grandes, e agora volta aos estudos. Ela riu e disse que agora estava tudo explicado! Então é isso. A cena da tomada ganhou, na aula, um outro sentido.