Andrea Matarazzo: desafios para São Paulo

Esse texto tem duas partes: uma visão entusiasmada da candidatura de Andrea Matarazzo à prefeitura de S. Paulo e uma reflexão sobre as possibilidades tecnológicas para lidar com problemas graves de nossa cidade.

1. Um prefeito que São Paulo merece

Ontem ouvi o vereador Andrea Matarazzo no diretório do PSDB de Pinheiros, que está organizando conversas com os prefeitáveis do partido. Foi um alento. No meio de tantas notícias ruins, ouvir alguém preparado e cuidadoso me trouxe esperança.

Ele começou resgatando suas memórias de S. Paulo, vale a pena ouvi-lo apenas por isso. Com as eleições chegando, ele vai certamente falar no seu bairro, no seu clube, na sua associação profissional, não percam. Depois falou de sua trajetória na administração pública: onde foi aprendendo o quê, e com quem. Um percurso com lógica.

“Eu me preparei para ser prefeito de S. Paulo.” Só por isso já valeria o voto. Alguém que vê a importância de S. Paulo em si mesma, à parte do contexto político nacional, é fundamental hoje para enfrentarmos nossos problemas e sermos nós parte da superação da crise nacional.

Conhece a administração pública municipal e a cidade. Aqui não se trata do populismo de “conhecer Sapopemba”. Trata-se de saber quais os problemas da cidade e os recursos para lidar com eles. Fala dos bairros e das ruas sem o medo de confundir nomes que os maus alunos têm. Fala das pessoas como pessoas, e não como categorias de gentes.

Eu realmente gostei. De bônus, não vi nele o machismo constrangedor dos outros tucanos. Pode até ser, mas o homem é fino e isso ajuda no trato com os diferentes.

Também não vi traços de distúrbio de personalidade, como nos últimos prefeitos: a vaidade doentia do Serra, a incomunicabilidade do Haddad que os impedem de compreender a realidade e seu papel nela. Ele chega, fala, ouve, responde, relata experiências e aprendizados mais que conquistas. Parece, pelo que vi, ser uma pessoa normal, que se irrita quando confundem seu nome como nós nos irritaríamos, sem histrionismo. Que é o que São Paulo precisa. Uma pessoa normal e gabaritada.

Sobre assuntos difíceis, como a cracolândia, a gravidez indesejada, a corrupção dos fiscais, fala de um modo objetivo e ponderado, livre do politicamente correto ou do “bandido é na cadeia”, do populismo de direita. Penso que em termos de voto, não há mesmo o que pensar. É o prefeito que S. Paulo precisa e merece.

Tem idéias para a administração, que quer ver modernizada para atender a população. Falou tão mal da administração Haddad que você fica se perguntando: será que a coisa é tão séria assim? Dá medo.

2. Uma nova regulamentação para São Paulo

Grande parte dos problemas que ele relatou são institucionais: tem a ver com a falta de regularização de propriedades, que impede o desenvolvimento de algumas regiões. Ele trouxe alguns casos mais críticos, onde a falta de regularização impede a instalação de comércio, a própria entrada de serviços públicos, trazendo abandono e criminalidade. Ao mesmo tempo, ele fez pouco da discussão sobre o Uber – que, concordo, teve uma dimensão maior que o problema do transporte individual pago.

Minha pergunta no debate foi a seguinte. Será que o Uber não apenas galvanizou um debate acalorado sobre uma concepção de organização? Será que não reflete uma discussão – essa sim relevante – sobre como vamos dar conta de tudo o que precisa ser feito em S. Paulo? Sobre como vamos regular serviços? Será que o foco geral da discussão Uber não está correto?

Citei a necessidade de regularmos as mães crecheiras ao invés de esperarmos as creches públicas ou jogarmos mais responsabilidade nas empresas. E a necessidade de pensarmos a questão do transporte público em geral de modo menos rígido, porém regulado. Explico. O vereador disse que se liberalizarmos o transporte público, as empresas vão se fixar nas linhas mais rentáveis apenas. Será?

Se você desregular as linhas, mas mantiver toda a gama de exigências, sim. Com ônibus diário, com frequência determinada, com milhões de certidões e concorrências, aí sim só pode custear isso quem tem uma linha altamente rentável. Entretanto, e se a empresa não precisar custear tudo isso, incluindo aí os subornos para ganhar licitações?

Entendem onde quero chegar?

No debate, alguém falou do problema dos jovens da periferia que nos fins-de-semana ficam presos em regiões de pouca oferta cultural. Bem, digamos que eu more na periferia e tenha uma van que uso para meu trabalho como autônomo durante a semana. Nos fins de semana, quero usar a van para levar os jovens para passeios no centro, pela manhã e também à noite. Exatamente como os pais de classe média fazem, levam os filhos para passeios. Eu não tenho linha regular, não é sempre que ofereço o serviço, mas eu poderia me cadastrar, seguir uma regulamentação simples e pronto, os jovens já podem usufruir tudo o que a cidade oferece.

Pode haver desvios? Sim, pode. Mas com o bilhete único, com gps e com bom senso, ele será minimizado. O mercado adaptaria as linhas aos horários. Se o horário de pico na periferia é mais cedo, os provedores de transporte se concentrariam lá nesse horário. De modo flexível, imediato. Sem esperar 20 anos para uma concorrência que vocês sabem o que significa: cartéis, ineficiência, roubalheira. Precisamos ter em mente o tremendo avanço nas plataformas de compartilhamento. Se a maioria dos paulistanos hoje tem smartphone, eles podem também avisar para os prestadores de serviço que há um grupo pessoas num certo ponto de ônibus que aguarda transporte. Uma uberização do transporte público.

Claro que as linhas principais devem ter regularidade, assim como o metrô: corredores de ônibus atendendo ao grande fluxo. Mas será que dentro dos bairros a lógica deve ser essa? Entendem onde quero chegar? A mim, tanto se me dá se o Uber vai entrar em S. Paulo ou não. Não é essa a questão. Eu me viro com os táxis. Mas estou falando da adoção de transporte compartilhado como alternativa a um péssimo serviço que é hoje oferecido pelas linhas regulamentadas, inclusive e talvez principalmente na periferia.

O resumo desse texto, então, é o seguinte: Andrea Matarazzo me pareceu uma alternativa realmente preciosa para S. Paulo, por seu pé-no-chão, pelo modo amoroso como que vê nossa cidade e seus moradores. Ao mesmo tempo, gostaria que ele explorasse as opções tecnológicas da “cidade inteligente” como algo que possa servir não apenas o centro expandido, mas também o morador da periferia. Penso que isso vai exigir estudo e criatividade, pois quando se fala em smart cities se tem em mente principalmente os problemas de primeiro mundo. Mas ontem comecei a achar que eles também podem ajudar a nossa cidade como um todo!

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