A Copa AirBnb do Brasil

Mesmo carente de conhecimentos ludopédicos básicos, sou uma pessoa viajada, que já foi hóspede em muitos lugares e que também já hospedou muita gente em casa! Virei fã, nessa Copa, do AirBnb, um jeito de abrir a casa da gente e pagar umas contas que sempre é bem vindo. E acho que, à parte os bons jogos, o AirBnb é o grande campeão até o momento, com dicas muito simples e objetivas que o governo e a Fifa deveriam ter respeitado!

O primeiro é que você não anuncia uma coisa que você não tem. O “listing” tem que ser sincero. Se você não tem 12 estádios padrão Fifa, não diz que tem! O Brasil deveria ter listado apenas 8 estádios.

Quanto à infraestrutura aeroportuária, o mesmo. Quando você vai ter hóspedes, o que você faz? Melhora o que tem. Faz faxina, explica como chegar, compra uns presentes para agradar os convidados!

O governo deveria ter melhorado o que já temos, preenchendo gargalos óbvios, dando um tapa nos estádios. E, claro, concentrado jogos em regiões para diminuir a pressão. Ou você decide instalar a Jacuzzi logo antes de seus hóspedes chegarem?

Se necessário, você pede para os hóspedes colaborações, mesmo que não seja para lucrar em cima. No caso, impostos, que é algo constitucional, uma invenção arcaica do ser humano, não faz sentido abrir mão.

Você também deixa claro para os hóspedes suas obrigações, ou seja, servir comida estragada por exemplo, fere as regras. O Brasil deve colocar na avaliação da FIFA esse deslize, para o próximo anfitrião ficar alerta!

Isso não significa cruzar os braços! Acho ótimo aproveitar que vamos receber gente de fora para arrumar a casa! Mas não através da Andrade Gutierrez. O Brasil deveria ter mobilizado a educação para ensinar línguas aos brasileiros, gastando rodos de dinheiro nisso.

Contratar professores nas escolas públicas, financiar escolas particulares de línguas, pedir colaboração para os institutos ligados a países estrangeiros (Camões, Cervantes, British Council, etc.). Opa, ato falho, listei o Camões também. Mas também tá valendo, por que não?

O foco poderia ter sido nas cidades-sede, mas não exclusivo a elas. Pois se os jogos fossem mais concentrados, sobraria mais tempo para os turistas explorarem o país – quem achou que dispersando os jogos mostraria mais o Brasil nunca fez uma viagem na vida, ou leu um livro de viagens, ou conversou com alguém que fez.

O governo também deveria ter feito coisas que vamos adiando até nos depararmos com o olhar estrangeiro. Acessibilidade, por exemplo. Essa Copa poderia ter sido a campeã da acessibilidade, transformando as cidades-sede em exemplos para o mundo.

E um pouco da política Kassabiana não faria mal: dá uma pintada na cidade, mantém ela limpinha, dá um trato, que essas coisas são baratas e causam boa impressão!

Por ser educadora, acabo achando sempre mais importante a cultura. Aprender línguas seria essencial no setor de turismo – a Avis rent a car por exemplo não tinha ninguém que falasse inglês -, essencial na sociabilidade na rua, para ajudar os turistas, mas seria algo valioso no futuro também.

Criaria laços entre as pessoas, abriria horizontes para o futuro. Enfim, isso sim é um mega-evento. Um monte de concreto empilhado não.

Minha cidade-sede é São Paulo. É impossível perturbar São Paulo mais que os 20 milhões de pessoas que moram aqui e no entorno. O que é bom para os turistas, é o que São Paulo precisa no dia-a-dia. O que eles gostam é o que nós gostamos.

Calçadas melhores, civilidade no trânsito, essas coisas. A impressão que tenho é que os anfitriões não se colocaram no lugar dos hóspedes. Lugares públicos para ver o jogo. Penso que quem fez isso foram as pessoas, os paulistanos, que foram traduzindo cardápios, limpando a casa, botando bandeiras multi-nacionais.

Os erros de tradução que apareceram no Face devem ser, paradoxalmente, aplaudidos. Mostram um povo todo fazendo um esforço de falar a língua dos visitantes, um esforço sem apoio do setor público, um esforço, enfim, para receber bem!

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