Dia 23 de junho
Opa, hoje seria só meio expediente. Mas nem isso fiz, pois fui me aventurar no Itaquerão.
Pra compensar, ontem montei uma enquete no Moodle perguntando pros alunos a disponibilidade deles para as apresentações dos trabalhos, que me deu um certo trabalho pois em geral uso só os fóruns. Também reenviei minhas propostas curriculares para o pessoal do departamento, pois parece que querem fazer uma reforma substantiva nos cursos agora, que está todo mundo em greve. Tem gente que acha que é melhor fazer apenas uma pequena remodelada para se adequar a novas diretrizes de não-sei-quê, mas outros, parece, se animaram com o fato de não ter ninguém por perto. Não tenho mais detalhes. Essas propostas que reenviei obtiveram um enorme silêncio quando foram apresentadas, o que na época não compreendi mas agora, depois de dois anos lendo Faoro, fez sentido.
Itaquerão: meus amigos e familiares, gente muito simples, muito modesta e tímida, disseram que ficariam meio constrangidos em encarar a elite branca em peso no Itaquerão, então fui sozinha tentar um ingresso para o jogo de hoje. Olha, elite mesmo! Que civilidade! Dia ensolarado, todos se confraternizando, adorei. Me juntei a uns chilenos que estavam dispostos a pagar o mesmo que eu, ficamos segurando cartazes, e conversando com todos, mas o preço que obtivemos era 3 vezes maior que o que tínhamos, então o jeito foi ver no Rei dos Pastéis lá na Artur Alvim mesmo, com todos juntos, chilenos e holandeses! De cômico, o garçom que servia chop nas mesas torcendo: “É Corithians!”
Policialmento educado, voluntários simpáticos, uma beleza. Cambistas meio mau-encarados, mas cada um no seu papel, né? Metrô com anúncios bilingues compreensíveis, achei tudo dez. Só não deu pra entrar, pena, mas é porque tinha muita gente implorando por ingressos com cartazes em várias línguas e combinações. País abençoado onde uma mulher se aventura nos arredores de um estádio de futebol sem o menor incômodo de quem quer que seja. Não estou sendo irônica, estou até com os olhos marejados. País abençoado mesmo. Onde é que eu teria a liberdade que tenho aqui?
Onde é que eu poderia sentar no meu computador e escrever o que me passa pela cabeça, sem auto-censura, andar pela cidade sem receio (com cautela, é certo), onde? São liberdades que na nossa gana reivindicatória nós não damos valor. Então vamos combinar que entre os países que estão competindo na Copa, o nosso é campeão!, claro que ao lado de alguns outros, mas estamos na final! Agora tem que torcer para o Brasil, mas já estou meio cansada de jogo de futebol, vontade de ficar lendo em casa e pronto. Mas como não prestei serviço militar, vou ver o jogo…
Dia 24 de junho
Olha, não vou mais postar esses reports. Está ficando uma auto-flagelação, não é a idéia. Então se tiver coisa bacana eu escrevo, caso contrário não. Vou parar de me cobrar, vou trabalhar zen. Só termino com o relato de hoje:
Fiz pequenas coisas. Um parecer para revista, um aluno conseguiu uma publicação, enviei proposta de mestrado de orientanda para Fapesp, essas coisas. Cobrei uns editores sobre um artigo (sobre a greve), conversei com orientando sobre organização de uma video-conferencia, com outro sobre o projeto da OKB, um reclamou de dificuldade de concentração. Já eu parei no meio do trânsito, chorando, com saudades da minha mãe. Imagine os outros alunos, como devem estar se sentindo, imprestáveis, inúteis, os da graduação, justamente os que precisam de apoio da instituição. Será que tem algum jeito de processar alguém por esse estrago todo?
Então, só pra terminar, caso alguém não tenha entendido: a greve universitária é de uma irresponsabilidade tremenda.