Hoje no Estadão saiu uma matéria sobre o desabaratamento de uma “quadrilha” que realizava abortos no Rio de Janeiro. A matéria não fala qual exatamente o crime cometido nem por que a investigação foi iniciada. As condições da intervenção eram precárias? Houve denúncias feitas por pacientes mal atendidas, que tiveraram sequelas? O que originou a investigação em primeiro lugar, num Estado como o Rio de Janeiro onde se matam até juízes, onde comunidades inteiras vivem sem a proteção do Estado?
Imagino com que termos o Estadão cobriria a destruição do Quilombo dos Palmares. Pois a guerra contra os direitos de reprodução é uma guerra injusta para todas as mulheres, independentemente de classe social. Como vão fazer essas 50 mulheres que interrompiam a gravidez a cada semana, daqui por diante? Vão recorrer a que “quadrilha”? Isso, claro, se realmente, como diz a notícias, o único motivo para desbaratá-la fosse o fato de prestarem um serviço desejado por essas mulheres, mas ficamos sem saber se havia algum crime mesmo sendo cometido.
Acredito que o Estadão deveria, depois desse texto estapafúrdio, fazer uma matéria de verdade, buscando entender por que houve essa operação e quais suas consequencias para a sociedade e em especial para as mulheres que buscariam os serviços da “quadrilha”. Também não custaria verfiicar como fazem as mulheres que não podem pagar esse preço – que “quadrilhas” elas usam, e que consequencias isso traz a elas e a suas famílias.
O resto é conversa. Não é nem jornalismo nem trabalho de polícia.