A proposta
Sugerimos aqui algumas mudanças na forma como são feitas as contratações docentes em nossa universidade, com o objetivo de facilitar a divulgação dos concursos e aumentar a competividade destes
Justificativa
A constituição do corpo docente é um dos pilares da universidade. Tendo os melhores e mais dedicados professores, teremos também todas as condições de ter uma excelente universidade e também de enfrentar os desafios que surjam no futuro. No mundo de hoje, temos uma oferta global enorme de professores bem formados. Por outro lado, no Brasil, temos uma grande expansão de vagas docentes. Ou seja, há um feliz equilíbrio entre oferta e demanda pensando-se globalmente, mas não nacionalmente.
O que impede um recém-doutor de uma boa universidade estrangeira de candidatar-se a essas vagas? A falta de informação e acima de tudo os impedimentos burocráticos. Essa proposta busca eliminar os dois, trazendo para a universidade jovens professores com energia e com idéias novas, alimentando a nossa universidade e tornando-a plural e global.
Quem se beneficiará mais destas mudanças? No curto prazo, universidades como a Unesp, por contarem com boa infraestrutura que atrairá esses candidatos, e por sofrerem a concorrência da USP e Unicamp pelos melhores candidatos nacionais. Mas, no longo prazo, também essas universidades, quando sentirem a necessidade de concorrer globalmente, também se beneficiarão. Hoje elas não sentem tanto essa necessidade pois contam com as candidaturas dos melhores doutores do país inteiro. Portanto, é a Unesp, na minha opinião, que poderá liderar mudanças nesse sentido.
Já ouvi críticas a essa contratação global: “as contratações se dão por indicação, mesmo no mercado global”, “o que um estrangeiro vai fazer no Brasil?” Minhas respostas: Existe um mercado de fato global, onde certamente contam as indicações, mas cargos para docente em universidades americanas tem 100, 200 candidatos, do mundo todo. É um processo trabalhoso e não faria sentido passar por isso se as instituições não tivessem interesse em contratar o melhor entre esses todos. Quanto ao interesse e contribuição de doutores estrangeiros, o Brasil está na arena internacional, e é importante aproveitar esse momento. Além disso, esses professores estrangeiros podem hoje, com a integração dos universos de pesquisa, manter-se conectados aos seus grupos originais e incluir seus centros de pesquisa brasileiros a esses grupos, internacionalizando de fato a Unesp. Além disso, os alunos hoje estão abertos e até sedentos a experiências internacionais. Acredito que até gostariam de ter aulas em inglês ou outra língua franca, mesmo que inicialmente isso fosse um desafio. Além disso, acredito que a maioria dos candidatos estrangeiros teriam já familiaridade com o Brasil ou o português.
O concurso
Aqui vão minhas sugestões para os novos concursos
Divulgação: Um cargo de docente na Unesp é algo extremamente caro. Valeria a pena pedir a um contador para que calculasse o valor presente da contratação, ou seja, quanto um docente em tempo integral irá custar à instituição ao longo de sua carreira trazido para o valor de hoje. No entanto, gastamos pouco na divulgação deste “prêmio”. Colocação no diário oficial, que no passado era algo de fato público, hoje não serve à necessidade de publicidade. Sugiro que se divulguem todos os concursos para tempo integral, necessariamente, em boletins de pelo menos: três associações de âmbito nacional, três associações de âmbito global (por exemplo, uma americana, uma européia, uma latino-americana).
Etapa 1: avaliação através do Lattes. O Lattes é uma coisa realmente espetacular, de acesso global, detalhado e público. Por que não usar para uma seleção inicial? Ele poderia ser complementado por uma carta de apresentação, onde o candidato traçaria sua trajetória, seu interesse na Unesp, seus interesses atuais de pesquisa. Os candidatos selecionados nessa etapa, que seria apenas eletrônica, ou seja, tanto o Lattes quanto a carta viriam por email, sem necessidade de comprovação. Inclusive porque qualquer comprovação, hoje, pode ser feita através da própria internet: artigos publicados, tese defendida, etc. Um número reduzido de candidatos passaria essa etapa 1, ou seja, apenas aqueles que a instituição quer mesmo conhecer e avaliar. É ridículo e constrangedor aceitar candidatos para a segunda fase que a instituição não tem interesse. Digamos, entre 3 e 5 pessoas.
Etapa 2: Essa etapa deve ser feita preferencialmente presencialmente. Mas deve-se usar a oportunidade para trazer novas idéias ao campus, divulgando as apresentações dos docentes, concentrando essas apresentações na área de especialidade dos candidatos e chamando a comunidade para participar destes eventos. Não há sentido em gastar tempo de todos para não auferir benefícios. Também sugiro que seja destinada uma verba para convidar esses candidatos, mesmo do exterior. Daí, inclusive, a necessidade de manter o número de candidatos reduzido. Ou seja, é preciso investir nessa decisão que envolve recursos vultosos. Em casos excepcionais, essa etapa poderia ser feita por video-conferência, mas apenas se houver uma justificativa muito boa. Em outros casos, o concurso também poderia ser feito em cidades mais centrais da Unesp, como São Paulo, para facilitar a vinda dos candidatos, mas a preferência deve ser dada a concursos realmente públicos nos vários campi, ou seja, envolvendo a comunidade acadêmica como um todo.
Hoje temos concursos com provinhas escritas, com aulas artificialmente construídas, e às vezes sem nenhuma interação com alunos, professores e mesmo com a própria banca. Claro que é preciso ver o candidato dar uma palestra de verdade, sobre seu tema de trabalho, com uma platéia interessada no seu assunto, para saber como ele se comportará em aulas e seminários no futuro. E provas não medem nada além do que seus artigos publicados já dizem. Sugiro então uma maior liberdade à banca na construção da avaliação, com a elaboração de sugestões e indicações pela reitoria. Na minha opinião, a visita dos candidatos deveria incluir uma grande palestra, uma entrevista com a banca, conversas informais com professores e alunos, que depois compartilhariam suas impressões com a banca, essa soberana para avaliar todo o material e julgar.
Implementação e Resultados
Provavelmente, muitas mudanças sugeridas dependem apenas de compreensão clara dos regulamentos atuais. Outras dependem de mudanças internas à Unesp e outras ainda talvez dependam de mudanças legislativas. De qualquer modo, é preciso estudar o que pode ser feito para buscar maior racionalização e democratização dos concursos.
Acredito que essa abertura traria para a Unesp uma gama de visões, de métodos de trabalho, muito grande. Mesmo alguns poucos professores estrangeiros nos campi já teriam um grande impacto, colocando-nos novos desafios. Acredito também que a Unesp “sairia na frente” nesse processo de internacionalização da universidade brasileira, antes mesmo das universidades com mais prestígio que em larga medida, por causa desse maior prestígio, acabam não enxergando as oportunidades que se abrem ao Brasil agora.