Cheguei ao Brasil em junho e fui direto – direto mesmo, deixei as coisas em casa e saí – para um congresso no Rio, muito divertido. Encontrei amigos do doutorado que não via há anos, mas sem surpresa, pois o congresso era para isso mesmo.
No último dia já tinham ido todos embora. Eu fiquei e fui ver uma palestra com editores sobre estratégias para publicação. No final fui falar com um editor de uma revista israelense sobre estudos latino-americanos, pois achei que um paper meu podia ter a ver. Me apresentei mas uma americana que também tinha ido falar com ele me interrompeu:
– Acho que te conheço.
– Não me lembro não – falei do meu jeito nem sempre simpático.
– Você não estudou no Bandeirantes?
Bandeirantes e Pequeno Príncipe são palavras mágicas nessas situações. Americana + Bandeirantes = Bonnie Sue Wasserman. Num segundo, seria até legal ver o meu cérebro funcionando naquele instante, o queixo largo da minha interlocutora se juntou com o rosto da Bonnie da minha memória e batata: lá estava o seu nome na crachá do congresso, sem o nome do meio.
– Bonnie Sue Wasserman! – eu falei certa. E gritamos e pulamos e nos abraçamos, como duas loucas. O israelense ali, irritado como um americano que perde tempo.
Saímos para andar na praia em Copacabana. Falamos da Raquel, que com ela tinha vindo para o Brasil. Só conheci a Raquel na faculdade, mas mantivemos contato esporádico durante todos esses anos. Da Bonnie eu não sabia mais. Está em N. York.
Falamos de nossas carreiras, de nossas famílias. Do judaísmo.
– Sabe – a Bonnie falou – queria te agradecer aquele Rosh Hashaná que você me convidou para ir na sua casa. Eu estava muito deslocada lá no Bandeirantes, e pra mim aquele momento foi muito importante.
A Bonnie lembrava muito dos meus pais e do meu irmão. Meu pai adorava aquele nomão, Bonnie Sue.
– Puxa Bonnie, não sabia que tinha sido tão importante. – Pensei em meus próprios jantares de Rosh Hashaná, longe de casa. – Em que ano foi mesmo que você foi estudar com a gente?
– Em 1983. Depois troquei de escola, melhorou.
Rosh Hashaná de 1983, segundo semestre do 1º ano colegial.
– Bonnie, você me conheceu na minha pré-história. No no final desse ano eu me apaixonei e no ano seguinte meus pais se separaram. 1983 é a pré-história para mim!
Depois sentamos para comer peixe naqueles restaurantes da orla. Ou vice-versa, não lembro. Mas as coisas de 25 anos atrás – como se o tempo tivesse pontes – essas a gente lembra.