Jardim América

Então continuo explorando São Paulo; desta vez ao familiar Jardim América, onde costumava passear com minha mãe, especialmente depois do famoso crime da rua Cuba. Que rua mais maravilhosa para se trucidar os pais! Dá um ar de mistério, por ser chique, por aludir à ilha comunista.

Parei o carro na Canadá, numa sombra. As calçadas impecavelmente erráticas (eu uso o Thesaurus em inglês, será que não podiam fazer um em português?), cada casinha com seu piso: uns deixam grama, outros botam pedra, tijolos, parece uma Casa Cor ao ar livre.

Ninguém andando no bairro. Minha lembrança era de mais gente. Gente com fisionomia meio desabada entrando no clube Harmonia. Guaritas com visores pelas casas mais novas, muros altíssimos, como antes só se via no Morumbi.

Se não me engano na Venezuela um tapume imenso, imenso mesmo. Uma placa dizendo o processo no Condephaat. Por uma pequena fresta vi ruínas completas. Um tapume imenso, demorei para achar a fresta, em torno da corrente de metal.

Podiam liberar o zoneamento e botar umas lojas bonitas lá, não? Uns escritórios finos, quem sabe até um bondinho fake circulando pelas ruas para quem quisesse ir de um lado ao outro? Diminuir o incentivo à demolição…

Mas essa rua essa rua não é minha. Nem essa cidade, cada vez mais estranha com minha pesquisa.

De legal: as casas mais descuidadas, sem dinheiro para muros altos, um musgo aqui e outro ali. Umas poucas casas com esculturas à vista. No mais não me senti bem não. Os vigias, a mulher de rua numa praça descarnada pedindo cigarro. Atravessar a Colômbia só na coragem. Seguir pela calçada da Brasil é um tormento. De carro a rua é bonita né? Mas vai andar.

Ser rico, no Brasil, é mais confortável. Mas é a mesma merda.

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