Sala de professores

A sala de professores sempre me causou asfixia. “A Heloisa entra muda e sai calada”, ouvi de um colega uma vez, reproduzindo o que o chefe de departamento pensava a meu respeito. Gosto de falar de alunos, discutir métodos de ensino, comentar notícias do dia, enfim, do que se faz em salas de professores. Mas a perspectiva de ter que entrar numa sala repleta de gente, “tudo bem? tudo bom?” me afeta a respiração e os batimentos cardíacos. A maior diferença entre ensino público e privado é essa: no ensino público temos uma sala própria.

O final dos cursos é sempre um momento de expectativa para mim. Que os alunos tenham dito que gostaram do curso ou não é menos importante do que a qualidade de seus trabalhos finais. Trabalhos bons me deixam satisfeita; trabalhos fracos esgarçam qualquer elogio. Como virão os trabalhos? Nas apresentações, eles revelarão coisas novas? Saberei fazer críticas que apontem novos caminhos?

“Ah, espero que passe logo a próxima hora.”
“Você tem os dois horários?”
“Não, mas é prova. Olha, prefiro aula que prova. Prova, a gente olha no relógio, depois olha denovo e não passou um minuto. É fogo.”

Tiro os olhos de meu Péricles, de Atenas, onde me distraio até 5 minutos antes da aula, quando vou esperar na porta a saída do outro professor. Olho para a professora, e pergunto silenciosamente por que ela dá prova, já que é tão chato assim. Volto ao Péricles, à minha mudez e às minhas expectativas até que a aula comece.

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Uma resposta em “Sala de professores

  1. Sempre achei essas tais salas de professores meio estranhas… especialmente os avisos “proibida a entrada de alunos.” O que será que está acontecendo atrás daquelas portas? Será que está todo mundo corrigindo provas?

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