No dia seguinte aos 50 anos do fatídico golpe militar brasileiro, que lançou o país numa ditadura de duas décadas, o Brasil volta ao ter o nome de Estados Unidos do Brasil, desta vez de modo democrático, por determinação de um congresso escolhido em eleições livres e sem coação de espécie alguma.
A última mudança de nome, em fevereiro de 1968, foi feita sob a égide da Lei de Segurança Nacional e da Constituição de 1967, em pleno regime militar.
A mudança de hoje aparece no bojo de inúmeras iniciativas de rememoração do passado brasileiro recente, tais como os trabalhos das Comissões da Verdade que se espalham pelos país, tímidas manifestações a favor do regime militar e críticas à Lei de Anistia, assim como a recuperação da história do presidente deposto João Goulart e de outros líderes dos anos 1960.
O projeto de lei transcorreu no Congresso sem celeumas, pois a volta ao nome atribuído ao país pelos republicanos e roubada dos brasileiros arbitrariamente foi inicialmente consensual entre os congressistas. Ele foi apresentado pelo primo em segundo grau de um possível filho de Juscelino Kubitschek de Oliveira, do DEM-GO, e passou sem que a imprensa desse importância pelas comissões de Justiça e Relações Exteriores, que não viram nenhum impecilho à mudança.
“Nosso país vai continuar sendo chamado de Brasil; ninguém vai se referir a nós como estadunidenses, então não haverá problema na relação com nossos vizinhos ou com os americanos”, disse o presidente da comissão de Relações Exteriores a esse blog.
A bancada do PSDB e aliados relutou nos dias que antecederam a votação, pois temiam ser vistos como lacaios do imperialismo norte-americano por conta das privatizações de FHC e agora também desta mudança de nome. Mas a posição firme da presidente Dilma Rousseff foi decisiva: “O país em primeiro lugar. Eu lutei contra a ditadura, e além de todas as violências físicas que sofri, ainda essa violência simbólica, que é mudar o nome de meu país. Eu nasci nos Estados Unidos do Brasil, e quero morrer, tendo cumprido o meu dever, nos Estados Unidos do Brasil.”
Votaram contra o projeto o deputado Jair Bolsonaro PP-RJ, alegando que a mudança era mais um desaforo às Forças Armadas do país, o deputado Roberto Freire ?-?, que apresentou projeto alternativo mudando o nome para Federação Brasileira, assim como a bancada da Papuda, que obteve habeas corpus para comparecer ao Congresso.
Alguns telegramas de países americanos já foram enviados, parabenizando pela mudança de nome e pela força da democracia brasileira. Até a publicação desse post, as embaixadas de Cuba e Venezuela em Brasília ainda não haviam se manifestado.
Estados Unidos do Brasil volta, Estados Unidos do Brasil volta, singular não plural, é um país indivisível.
Mudei a pedido, mas a decisão espera regulamentação do Senado.