PSDB pra Valer

Depois que me filiei ao PSDB, naquela terça-feira pós-segundo turno, fiz algumas tentativas de “entrar” no partido, que relatei em vários lugares, sempre de modo bem crítico. Hoje mudo o tom. A-do-rei ter ido na reunião da Esquerda pra Valer no diretório estadual do PSDB, em Moema. Fui super bem recebida, por gente animada, inteligente e comprometida com o partido e com a democracia.

Em primeiro lugar, entendi melhor o funcionamento do partido. Os tais “diretórios” seguem uma ordem cartorial. Há os diretórios municipais e nas grandes cidades os diretórios “zonais”, que correspondem às zonas eleitorais. O Brasil ainda em regime de sesmarias. Minha “zona”, eu pensei a princípio, seria a da Vila Buarque, que está se constituindo, pois há zonas vivas e zonas mortas. Mas é a de Pinheiros, que é super ativa, tem banquinha na Feira da Vila Madalena que vai acontecer em agosto, atividades, políticos importantes, arrecadação. Então legal, estou na zona certa, sem duplo sentido.

Alguns grupos têm existência formal, como (provavelmente) o TucanAfro, o PSDB Jovem e o PSDB Mulher. Para isso, é preciso se não me engano de um alcance nacional. O PSDB Esquerda pra Valer é uma tendência apenas. A palavra mais usada por eles foi humanismo, mais que outras expressões comuns na esquerda. Tive a impressão de que o cerne do grupo é uma fidelidade aos princípios históricos do partido, falaram muito em Montoro, por exemplo. Desceram a lenha na redução da maioridade. Debatem de tudo: a política nacional, o impeachment, as manifestações, a relação entre partido e sociedade.

Muitos batem na questão programática, ideológica, como se fosse possível no Brasil eliminar esse sambismo político. Não ficou claro pra mim se era só coisas dos líderes querendo criar uma bandeira, se era um desejo do grupo todo, mas achei que era mais uma questão de identidade que de crença. Não tem name-dropping como nas reuniões do Onda Azul, onde todo mundo almoçou ontem com o Bloomberg. É mais popular e não tão jovem. A questão dos meios de comunicação, por exemplo, não é muito falada. Mas tem uma vitalidade, tem uma abertura, não sei explicar. Gostei.

Acho que têm uma familiaridade com a vida partidária, mesmo que de modo crítico. Querem um partido mais forte, não apenas trampolim eleitoral. Acho que é isso que gostei. Relatam que a questão da democracia interna é falada há muito tempo, sem avanços. E discutiram muito a pesquisa que botou os partidos na rabeira das instituições de respeito no Brasil. E, assim como no Onda Azul, falam do Instituto Teotônio Vilela como possível lugar de debates partidários.

Uma parte do fundo partidário, só pra explicar, é destinada a institutos de formação política. O ITV do PSDB; o Perseu Abramo do PT; e os outros veja aqui, no site do TRE-RJ, que tem alguns dados mais fáceis de achar, por alguma razão. Acho isso muito bom, esse resgate de fóruns de discussão. Pelo que andei assuntando, esses institutos são usados hoje mais pra dar cargo pra cacique que não se elegeu, o que é uma pena, pois se o cara não se elegeu seria ótimo voltar pro escritório, pegar no batente, se inteirar do que está acontecendo na sociedade pra voltar renovado.

Enfim, a coisa é essa. É que nós temos um caciquismo tão arraigado, que queremos entrar nos partidos via Rue de la Sorbonne. Queremos “ser chamados”. Talvez o caminho seja entrar nos diretórios mesmo, e também se agregar aos grupos nacionais, tendências existentes ou mesmo criar novas tendências – Tucano Livre, alguém topa? Pois a sociedade mudou, novos temas surgiram, nada errado em trazer novas bandeiras ou mesmo, por questões de grupo, criar uma nova agregação.

O desafio, pelo que compreendi de modo bem provisório, é tentar dissolver o caciquismo que tem impedido os partidos de dialogar de modo mais intenso com a sociedade, que torna o ganho eleitoral mais provável no curto prazo mas no longo prazo descola o partido da sociedade. E às vezes nem funciona, como no caso da candidatura do Serra para prefeito “porque precisava de um nome forte pra derrotar o Haddad”. Não vamos dissolver o caciquismo se aceitarmos a falta de democracia interna. Mas se quisermos todos virar caciques, também não vai funcionar.

Acho que a democracia partidária pode ser reforçada com mais abertura, com acolhimento a novos filiados, com uma visão doutrinária onde o cerne está claro mas o sambismo é permitido, com o uso de novos meios de comunicação que dêem transparência às discussões e decisões partidárias e provavelmente com reformas do estatuto que promovam decisões mais democráticas. O PSDB precisa construir uma cultura partidária, sem ter o PT dos anos 1980 como modelo, pois aquilo foi, ao fim e ao cabo, um engodo. Uma cultura partidária que proporcione o pertencimento em bases racionais e não meramente simbólicas.

Então fica o convite para você se filiar a esse partido, que pode ser feito pela internet. Hoje, a vida partidária é muito pouco digital, então para a nova geração pode parecer que há um muro. Mas ela existe e ontem fiquei com a otimista impressão de que ela pode se modernizar. Pois o que é importa, no fundo, é gente. Finalizo o texto, como sou professora e alguns de meus alunos lêem o que escrevo, dizendo que a minha opção é pelo PSDB. Busque a sua. Vá ao diretório do partido ou dos partidos em que você votou nas últimas eleições. Frequente um tempo, fuce, faça perguntas, observe como as pessoas reagem, o que esperam de você. Filiado ou não, participe, questione, colabore, decepcione-se, reencontre um ideal, e vá caminhando buscando respostas para esse Brasil.

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5 respostas em “PSDB pra Valer

  1. Excelente descrição do que foi a reunião do Esquerda Pra Valer. E a professora é muito bem vinda ao diretório de Pinheiros, bem como qualquer cidadão que queira conhecer o PSDB.

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