Na semana passada me entrevistaram para a Band, aqui vai o link. Mas acho que essas entrevistas acabam não ajudando muito a transmitir uma idéia ou análise, então vou escrever abaixo algumas coisas sobre o que disse, e considero importante. A pergunta era: a corrupção é cultural? Eu disse que não.
1. Há uma campanha oficial para transformar todos em baruscos, com órgãos federais empenhados em nos lembrar de nossos pequenos delitos. Só falta o governo federal lançar a hashtag: #jesuisbarusque. Mesmo você que sue a camisa de segunda a sexta, devia se solidarizar com os acusados do Petrolão pois no fundo somos todos gente (e gente rouba). Por mais patética que essa campanha seja, ela está pegando as pessoas.
2. As leis são complexas, os processos oficiais são opacos e as exigências que se fazem ao cidadão são exageradas. É difícil estar absolutamente dentro da lei quando elas são complexas e opressivas. E, se nada é transparente, os baruscos podem se aproveitar do fato. Não tem nada a ver com jeitinho brasileiro, com cultura nacional.
3. Somos sim um povo ordeiro e pacífico. É impressionante que em ruas praticamente sem polícia não tenhamos maior criminalidade. É impressionante que reunamos, por política, religião ou festa, milhões nas ruas sem maiores incidentes.
4. Claro que a corrupção é antiga! Se a opressão dessas leis é antiga, e as pessoas precisam viver, vão dando um jeito mesmo. Não é cultural. É absolutamente racional, é o melhor para fazer não apenas individualmente, mas até coletivamente. Pois há regras burladas que o são para o benefício público, como por exemplo trazer equipamentos de pesquisa ou remédios de importação proibida ou demorada.
5. A solução: Estado menor, mais transparente, com legislação mais clara e racional. A gente vai continuar dando um jeitinho, no que temos de bom: na música, na sociabilidade, nos prazeres da vida. Na vida pública, estamos fartos de sermos comparados com baruscos.