Perguntas para tucanos

Ontem fui na reunião organizada pela Onda Azul com José Serra, e tive tempo apenas de fazer uma breve pergunta sobre os objetivos do mandado, que o senador eleito disse que responderá em detalhes numa próxima reunião. A conversa girou em torno de sua atuação passada, as eleições que concorreu, a experiência no governo Montoro e questões gerais de economia, onde fica nítido que sua visão é bem distinta das defendidas por FHC e Aécio.

Mas eu havia preparado duas perguntas com antecedência que mais ou menos servem para todos os tucanos, que copio abaixo, sobre o uso de meios de comunicação e sobre a presença de mulheres na política.

Meios de comunicação

O PSDB, um partido profundamente enraizado na tradição democrática brasileira, até recentemente ignorou o potencial democrático trazido pelo aumento do uso da internet. Alguns deputados do partido apresentaram projetos de lei que criminalizavam o uso cotidiano da rede, posteriormente abandonados. Deputados de outros partidos saíram na frente no uso da internet para dialogar com seu eleitorado, colaborando com a comunidade de ativistas da internet.

Durante a eleição, a situação mudou. Os tucanos foram surpreendidos com o carinho do eleitor conectado à rede assim como com as manifestações espontâneas de apoio político. O fake “Aécio Monstrão”, as manifestações do Vem Pra Rua, a contribuição da turma do Chapéu, tudo irradiava uma enorme simpatia e revelou a possibilidade, para tucanos e internautas, de uma relação igualitária na política: sem a relação de comando de cabos eleitorais e sem o gosto amargo da crítica.

Nesse momento pós eleitoral, os líderes tucanos estão usando a rede de modo, digamos, histriônico: postando discursos e vídeos inflamados na rede e conclamando os cidadãos ao protesto. Parecem, o que é compreensível, um pouco inebriados com o recém descoberto poder da internet, com a atenção dada, finalmente, ao que falaram por 12 anos. Mas esse tipo de relação intensa, emocional, indignada, não é perene. Logo, outros dramas vão ocupar a cabeça do eleitor, que é também trabalhador, empresário, pai, filho, morador de cidades repletas de problemas que vão exigir sua atenção mais do que os meandros do Congresso.

É preciso, para os próximos 4 anos, uma relação mais serena, mais profunda, com maior conteúdo, entre eleitores e representantes eleitos. É preciso transparência nos mandatos não apenas para alimentar uma sede vigilante do internauta, mas para abrir espaços de diálogo em torno de projetos de lei e da atividade parlamentar como um todo. Não podemos deixar escapar o clima de amizade conquistado nas eleições de 2014, a sensação de estarmos juntos lutando por um objetivo comum. Esse sentimento positivo será fundamental para atravessarmos os difíceis próximos 4 anos; a confiança na democracia depende dele.

Não é difícil construir mandatos verdadeiramente participativos, que vão além de 140 toques e alcancem o cerne da atividade de representação e legislativa. Hoje há tecnologia para isso, vontade por parte do eleitor, dados disponíveis pelo próprio Congresso Nacional. A pergunta, então, depois dessa longa introdução, é: como será o mandado do Senador José Serra? Como ele incluirá essas novas vozes em sua atividade legislativa? Em que medida seu mandato estará aberto, interessado, engajado no diálogo com seu eleitor (mais de 11 milhões) e com o eleitorado paulista (quase 19 milhões) que ele representa?

Mulheres na política

O PSDB é um partido com profundas raízes democráticas, cujos membros foram protagonistas de uma das transições democráticas mais belas da história mundial e em seguida redigiram nossa Constituição. Mas não só isso: é um partido de idéias modernas, com gestões públicas sólidas pelo Brasil e introdutor de programas inovadores.

Entretanto, a experiência de entrar numa reunião tucana é a de uma viagem no tempo; a sensação que se têm é de estar de volta ao início dos anos 1980, quando Regina Duarte era Malu Mulher. Se hoje as mulheres brasileiras lideram grandes empresas, equipes médicas, pesquisas de ponta, e na maior parte dos círculos sociais estão bem representadas, no PSDB o olhar dirigido à mulher é de curiosidade e estranhamento.

Outros partidos menos respeitosos às liberdades individuais conseguiram, paradoxalmente, incluir as mulheres de modo mais efetivo. Não são partidos com os quais me identifico pois sou das que acredita que é melhor ser mulher em Atenas do que em Sparta. Mas penso que a democracia pode ser inclusiva sem condescendência, sem falsas inclusões. A pergunta ao senador Serra é: Quais são os mecanismos de exclusão da mulher em funcionamento no PSDB? O partido pensa em desmontá-los ou pretende mantê-los?

 

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