Me entrevistaram sobre um tema que eu tenho, coincidentemente, refletido um pouco. Somos narcisistas? O que isso significa? Isso é apenas ruim, estéril?
(Quando mostrei a definição de histrionismo para minha cunhada, ela riu de verdade. Quem não é assim, ela perguntou? Todos queremos entrar numa festa e sermos acolhidos. A ela agradeço minha visão mais benigna dessa nossa busca por reconhecimento.)
Quando sair em mando o link, mas aqui vão as minhas reflexões.
Qualquer nova tecnologia a que tenhamos acesso vai alterar nosso modo de nos relacionarmos com os outros e conosco mesmo. Acredito que o grande divisor de águas para entender a mudança nessa relação que temos com nós mesmos é a produção de livros em massa.
Quando o livro está disponível em casa sem um custo exorbitante, e a partir do momento em que temos tempo ocioso suficiente, podemos estar com nós mesmos muito mais. Aprendemos a gostar disso!
Espelhos tais como conhecemos hoje e óculos são mais ou menos da mesma época, ou seja, também na esfera visual o mundo moderno nos deu instrumentos para nos enxergarmos e nos entendermos melhor como indivíduos.
Narcisismo ou introspecção? Egoísmo ou auto-conhecimento? Acho que a diferença aqui é ética. Dado que podemos nos ver mais e melhor, vamos fazer desse acesso algo bom para o outro, ou limitante para nós mesmos?
Acho que esse é o dilema de cada um de nós quando abre um livro, quando se vê no espelho, quando posta suas idéias brilhantes na internet e suas fotos espetaculares. Queremos contribuir para algo, ou apenas nos exibir?
Queremos que nossas idéias e imagens sejam de algum modo útil, que façam parte de algo maior, ou estamos em busca de um aplauso fútil e sempre insuficiente? A atenção que pedimos também damos às idéias brilhantes dos outros, ou precisamos diminuir todo o resto para estarmos bem?
Acho que não adiante brigar com a tecnologia, buscar o ideal também inatingível da “vida simples” e da modéstia franciscana. O melhor é assumir que estamos nesse mundo do self, dos selfies, e tocar adiante com humor nossos próprios desejos de admiração!
Sobre os selfies em particular, a idéia acima se traduziria no seguinte. Se você tirar um self que o coloca num contexto, ou de uma passeata, ou de um lugar que merce a atenção do outro, pode ser um modo de dizer que você está lá, presente, consciente. Um modo de se inserir em algo e convidar os outros para fazer parte. Mas, como saiu num jornal americano ou canadense, evite tirar selfies com ursos.
Update: a matéria dos selfies está nesse link do Agora São Paulo. Meu comentário saiu na edição em papel e está nesse PDF, Agora. Não falei nada de pintura, pois é um assunto que não entendo bissolutamente nada.