(Vou misturar dois assuntos e tentar manter o post curto para não ficar confuso.)
No sábado, depois de 10 dias de reflexão, os judeus do mundo inteiro vão desejar uns aos outros que sua inscrição no livro da vida seja selada, mesmo os ateus que não acreditam nisso literalmente mas que vêem um poderoso simbolismo no fato de precisarmos, a cada ano, fazer jus a um novo ano de vida.
É um tipo de renovação contratual, onde compensamos eventuais prejuízos e nos comprometermos a certos compromissos futuros.
No dia seguinte vamos votar para presidente do Brasil, mais de 140 milhões de brasileiros. Cada um de nós vai refazer também um contrato que temos com a democracia, que é uma espécie de fé, de crença que temos em comum, e veja mais sobre isso no belo texto de Eva Illouz, recentemente publicado.
Democracia, como diz Arendt, é algo extremamente poderoso, capaz de produzir tantas coisas maravilhosas. Mas também é algo frágil, que pode ser destruído por uma invasão estrangeira, um líder carismático, uma séria crise econômica, ou pelo mero descaso.
É esse contrato que está em jogo no domingo e, 3 semanas depois, no dia 26 de outubro. Se explorarmos a analogia, esse domingo será o Rosh Hashaná e o dia 26 de outubro, depois de 3 semanas dolorosas, o solene dia final, o Yom Kipur.
Temos a oportunidade, que nem todos tem, de escolher nosso próprio líder, que ao longo de 4 anos terá sob seu comando legal as forças armadas, ministérios e agências, empresas públicas e universidades. É um raro privilégio, é algo que foi construído de modo paulatino por gentes de todo o mundo, na luta pela liberdade em sociedades justas.
Eu já disse que vou votar em Aécio, mas há além dele dois outros candidatos que merecem meu respeito pois respeitam também a democracia e buscam uma sociedade melhor. São pessoas, como Aécio, com contradições. Mas ficou claro ao longo da campanha que um partido verde forte faz falta no Brasil hoje, com questões ambientais ganhando gravidade mais cedo do que imaginamos.
Votar em Eduardo Jorge é dizer que devemos discutir os até então tabus nacionais, é pedir um debate mais amplo sobre drogas, direitos reprodutivos e, claro, sobre meio ambiente. Marina também se mostrou, nessa reta final, muito mais racional e serena do que no começo, quando queria ganhar os votos emotivos. O sistema político nacional vai se acomodar a uma possível vitória de Marina de tal modo que, se ela se tornar presidente do Brasil, teremos uma gestão responsável e na direção certa.
Honestidade e racionalidade, crescimento econômico sustentável e devolução do Estado à sociedade, retorno aos valores nacionais dentro e fora do país. Esse é o contrato que esses três candidatos, Marina, Aécio e Eduardo Jorge apresentam para o país, o contrato da democracia, do diálogo, com todos os percalços que o diálogo tem.
Votar em Dilma é dizer sim ao desastre ambiental para o qual estamos caminhando, o descontrole financeiro, a crise econômica, o aparelhamento do Estado e a cooptação da sociedade, que inclui a ideologização das universidades. É aceitar migalhas em troca de calar a boca, é abraçar esse socialismo de shopping center que se elegeu como ideal de justiça. Votar em Genro é fazer tudo isso com mais ardor e desrespeito à lei. Não é um contrato para o Brasil.
No domingo, voto em Aécio. Depois de 3 semanas, voto em quem o povo brasileiro escolher para renovar meu contrato com a democracia brasileira, com muita confiança, com muita fé e com a certeza de que de um modo ou outro, o Brasil será inscrito no livro da democracia.