Sei que todos vocês estão morrendo de preocupação, mas podem ficar tranquilos. Meu salário está sendo pago regularmente ao longo de toda a greve. Isso, o vale-alimentação também, mesmo que a última vez que pisei numa sala de aula tenha sido em maio de 2014. Ufa, né? Boa semana para todos então, agora já menos apreensivos.
Mas amanhã vou a Bauru, pois um colega americano vai dar um curso e vou para lá ver suas aulas, aproveitando para conversar com ele sobre um artigo que estamos preparando juntos, que retoma minha pesquisa sobre novelas brasileiras. Também vou falar com uma aluna que vai ver o curso, ver uma colega que mora lá, lembrar que sou parte de uma universidade comprometida com a educação superior, pois confesso que andei esquecendo.
Não que não tenha trabalhado, vocês acompanharam no blog, no Lattes, no Estadão Noite, nos meus anúncios do Dialogando, que aliás deu mais trabalho que eu imaginei inicialmente. Fora os pareceres, conversas com alunos, leituras, preparação de artigos, etc. Na verdade, nunca trabalhei tanto, e imagino que colegas menos vocais sobre os malefícios da greve também tenham adiantado bastante o serviço.
Mas já temos que voltar, parar mais será um desastre. Com que cara vou entrar agora numa sala de aula e pedir prazos, pedir esforço, pedir qualquer coisa? Acredito que estejamos no limiar da deslegitimação de nossa função educadora.
Me diga: com que cara vou cobrar qualquer coisa de um aluno, que justificativas eu vou poder rejeitar para um atraso, um simples “não fiz, ‘fessora, não ‘tava a fim.” Tá, não ‘tava a fim, tudo bem, o reitor não ‘tava a fim, o diretor não ‘tava a fim, por que cargas d’água você, aluno, recém saído da adolescência, tem que carregar o mundo nas costas?
Por hoje é só. Volto ao interior amanhã, antes que eu mesma perca o respeito que tenho por mim mesma, como dizia a minha avó, quando nos instava a nos vestir com esmero: “É uma falta de respeito para consigo mesmo”, ela decretava, e a greve que sempre foi um desastre à produção e transmissão de conhecimento, a partir desta semana chega a uma falta de respeito para consigo próprio.
Crônicas da Sala de Aula 
Para cobrar, não há moral. Vai ter que ser: faça por respeito a si próprio. Porque os adultos não se importam. Não adianta esperar a orientação da universidade. Estude para encontrar seu próprio caminho.