Muito bom filme, mas…

Ontem fui na Mostra de Cinema Árabe no Memorial da América Latina. O filme superou as minhas expectativas, um filme saudita e feminista. Acho que a diretora e atriz não mora lá, mas enfim. Poético, mostrando as agruras de uma viúva que, sem pais vivos, acaba sendo explorada pelo cunhado e criando uma amizade bem de cinema com um garoto iemenita que também não tem onde cair morto. Abandono, desproteção. Ela não tem direito algum, o garoto, sem nacionalidade, também não.

O Memorial é tétrico à noite o quanto é inóspito pela manhã, e no pequeno cineclube havia uns poucos gatos pingados. Conversei com duas mulheres que estavam lá, também buscando onde era o escondido cineclube. Conversa aparentemente solta e descontraída, eu me perguntando quando é que iam falar mal dos judeus, o que veio certeiro a uma certa altura, pois os judeus estão também se fragmentando por conta do radicalismo religioso e há famílias onde irmãos não se falam mais. Tá. Também se falou mal dos evangélicos, que é o preconceito politicamente correto dos dias atuais, entre a classe pseudo-intelectual.

O filme é bom, ainda mais precedido de um curta do Maghreb, ficção científica. Eu não sabia que ia passar, então o suspense ficou maior ainda, só entendi no final. Por que saí de lá deprimida, chocha, desanimada?

Por que estamos financiando esses países com bilhões e bilhões de dólares, um fluxo sem fim, para depois não ter onde parar o carro? Não o filme, mas a realidade de opressão à mulher e aos estrangeiros que ele retrata. Por que fazemos rodadas em Doha, prêmios em Bahrein, e copa do mundo da Fifa no Qatar???

Não é questão de boicote, é de priorizar a busca de alternativas energéticas para que esses países passem a depender das suas mulheres, de seus estrangeiros, como os nossos dependem dos nossos para pagar as contas, fechar o mês, ir adiante.

É esse petróleo que financia a opressão dentro e o caos fora, seja o ISIS, a Al Qaida. Mesmo a Al Jazeera se dependesse apenas do espectador talvez fosse distinta. Petróleo que todos consumimos juntos, todo dia, mas cujo destino é decidido por alguns poucos homens provavelmente sem a menor noção do estrago que fazem, sem nenhuma consulta democrática.

E, claro, Israel é o primeiro que paga o pato entre os países modernos. Com Al Qaeda e ISIS, todo mundo fica arrepiado, mas Israel é a linha de frente. Lá, onde mulheres ganham prêmio Nobel, onde os estrangeiros são recibidos dignamente, onde cada centavo é ganho com suor ou com doações que vão para laboratórios acadêmicos e parques públicos, lá é que é o problema do OM.

Então parabéns aos organizadores do festival, à diretora saudita, muito bacana. Só não gostei da realidade.

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