Como escrevi vários posts brincando com a conjuntura político, aviso que esse é sério. Decidi hoje pela manhã votar em Aécio Neves do PSDB para presidente do Brasil em 2014, por considerar que ele é o melhor candidato para o país.
Voto no PSDB há muito tempo, e desde a construção da Nova Marginal pelo governador José Serra, tenho tido uma decepção atrás da outra. Ainda não engoli a divulgação do prontuário médico de um paulistano para uso eleitoral, na campanha municipal de alguém que nem me recordo quem foi, em 2012.
A favor de Aécio, eu não tenho muito a dizer além de sua fala coerente e seus discursos equilibrados. Meu temor era que essa fala fosse na verdade leituras de textos do Fernando Henrique Cardoso, na minha opinião o único líder sensato que temos hoje. Hoje, lendo que o Samuel Pessoa está assessorando o político mineiro, soube que o candidato presidencial escolhe bem os textos que lê, o que já é aí sim um ponto positivo!
O Brasil hoje precisa de racionalidade, e o Samuel Pessoa é um exemplo de racionalidade. Precisa de ponderação, e a experiêcia de Fernando Henrique é a ponderação em pessoa. E, obviamente, precisa de inteligência política, e isso o político mineiro tem do berço. Se ele continuar expressando o que tem de melhor e buscando em outros o que os outros podem dar de melhor, estamos bem. E por isso vou votar em Aécio Neves em 2014.
Aécio Neves não tem um bom record na questão da liberdade de expressão. Existem acusações de que ele usa o poder político para calar jornalistas críticos, é do PSDB-MG a pior coisa que já surgiu em tempos recentes sobre legislação na internet, e recentemente ele pediu ao Google que só mostrasse suas realizações quando seu nome fosse buscado. Esse é meu issue prioritário, e posso apenas lamentar não ter um bom candidato fortemente comprometido com a liberdade de expressão para votar.
Mesmo assim, voto nele tranquila. Pois na lógica geral das coisas, na busca de uma sociedade justa, democrática e pujante, que é o que está em jogo nestas eleições, ele está do lado certo.
A presidente Dilma Rousseff conseguiu aprovar tanto a Lei de Acesso à Informação quanto o Marco Civil da Internet, peças modernas importantes, enquanto o PSDB, talvez um pouco atemorizado com o que FHC chama de “pecha neoliberal” (veja hoje também no Estadão, e depois me explique de onde tal temor), não acordou para a importância dos novos meios de comunicação na vida social e política.
Mas na mão do PT mesmo essas vitórias não conseguirão barrar a corrupção, o descaso com a administração pública e em última instância os ataques à democracia que o partido tem feito desde que decidiu não homologar a Constituição de 1988. Nas mãos do PT, a democracia corre risco sim, tanto pelo acirramento natural de tensões diante de problemas sociais causados por ações governamentais quanto pelo ataque direto feito pelo partido, de dentro e de fora da Papuda.
Nunca levei a sério Marina Silva, com seu discurso abstrato. Ela não teve bom desempenho como Ministra do Meio Ambiente, onde poderia ter mostrado à nação que regras propõe para que tenhamos um país pacífico, justo e em harmonia com a natureza. Depois dessa dança partidária toda é que eu não poderia fazê-lo; Marina Silva será candidata de enfeite num partido do qual não sei nada, ao lado de um político da base do governo.
Meio ambiente é essencial, e acesso livre à informação na internet também. Mas a racionalidade maior, que envolve a compreensão do jogo da democracia e do jogo do mercado, faltam escandalosamente aos outros candidatos. Nestes jogos gerais de nossa sociedade, que Aécio endossa, ele poderá abarcar as demandas ambientalistas e acostumar-se ao novo ambiente comunicativo; não há incompatibilidade.
Por isso, como disse, vou votar em Aécio Neves em 2014.
Crônicas da Sala de Aula 
Pergunta:
“melhor candidato para o Brasil” = “menos pior dentre os que se apresentam” ou
“melhor candidato para o Brasil” = “não tem ninguém melhor que ele para tal posição”?
Meu critério é sempre: “eu faria melhor?” Eu faria melhor que um coronel do governo Lula? Sim. Faria melhor que uma burocrata incompetente? Sim. Faria melhor que um hábil mineiro com bons assessores? Não.
De modo geral, a política é distinta do mercado, pois no mercado você pode esperar para comprar, enquanto que na política você deve escolher a cada 4 anos. Quando minhas sobrinhas forem candidatas a presidente eu voto nelas, claro, pois são muito bem preparadas, corretas, mas enquanto isso eu voto em quem se apresenta.
Essa possível tendência a tentar calar jornalistas é uma preocupação grande minha. E alguns amigos jornalistas que fizeram trabalhos em MG disseram que a influência é grande por lá – nunca foi checar detalhes de casos específicos, para ficar claro.
Concordando com o que o professor Renato Janine Ribeiro disse hoje no facebook, a liberdade de expressão é um valor supremo da democracia. E é muito temeroso para mim a pessoa com maior poder num cargo executivo do país que não saiba isso.
Aliás, essa questão da liberdade de expressão me lembra o contato com um político do PSDB que tive contato mais próximo que não sabe (e acho difícil que aprenda agora) lidar com divergência de opiniões. Claro que não quero generalizar isso para o PSDB, pois deve ser algo mais arraigado na nossa cultura pouco afeita ao debate e confronto de ideias, mas é curioso ver alguns nomes importantes nesse partido pouco valorizarem essa liberdade.
Também pouco conheço Eduardo Campos e seu partido, é preciso pesquisar mais. E acredito que para o fortalecimento da nossa democracia, precisamos de uma oposição menos frouxa.
Eu acho isso sério, e por isso deixei claro que é um problema. Mas acho que é algo não tão profundo no PSDB, que é um partido com forte base em São Paulo, onde a imprensa é livre. Os outros, nesse quesito, na minha opinião são muito piores.
Eu não seria tão categórico em dizer que a imprensa de SP “é livre”, menos ainda com relação à imprensa mineira (de onde o candidato é originário). E digo isso por experiência própria.
Heloisa, assim como o Diego, não estou certo se podemos dizer que a imprensa é livre em SP. Você é uma pessoa bem conectada, então imagino que tenha amigos jornalistas na mídia tradicional e nas novas. Eles concordam com isso?
O que mais faltaria para termos uma imprensa livre em São Paulo? Não consigo pensar em um tema, um grupo político, que não seja tratado pelos meios de comunicação, de um modo ou outro. O tema do direito reprodutivo não é tratado como eu gostaria, com a importância devida. Mas isso é a sociedade como um todo que bloqueia, não são os donos de jornal. E haverá sempre temas que merecem mais atenção.
Agora, o que está em questão não é isso. É o presidente da república. Eu votei em 2000 numa pessoa por causa de uma idéia. E me arrependi amargamente. Não é porque uma pessoa diz acolher uma idéia que na sua cabeça, naquele momento, é importante (e a questão da internet é a nossa questão do momento) que essa pessoa será um bom governante.
Pode ser que a pessoa nem acredite naquilo e esteja querendo acolher o seu grupo de interesse, pode ser que a pessoa acredite naquilo mas que no conjunto de sua atuação política ela não implemente, e pode ser que ela implemente mas que essa questão no fim das coisas não seja o fundamental na gestão global
Enfim, vou votar no Aécio pois no conjunto de seus valores e apoiadores acredito que ele abarque o que no conjunto de meus valores é importante. Pois eu vivo na sociedade, e não “na internet”. Meu país é o Brasil, e não o mecanismo de busca do Google. Se ele no processo abarcar nossas demandas, ótimo. Se não abarcar, façamos oposição nessa questão.
Com o Samuel Pessôa está assessorando, o Aécio torna-se o melhor candidato, mesmo não constando muito mais que não o desabonasse.
Concordo com o critério da Heloisa: “eu faria melhor?” Se o critério fosse “concordo integralmente”, “não errou”, não há em quem votar. É o fim da democracia.