E agora escrevo da minha Higienópolis, já tendo tomado banho e botado as roupas para lavar na minha máquina ecológica. Sábado à noite Izadora, irmã de meu amigo quase irmão Felipe de Holanda, veio me pegar no Plano Piloto, e é engraçado que o nome provisório tenha persistido tanto tempo, ainda é um Piloto, com o Ogi marido dela, e viajamos quase a outra cidade que é onde ela tem uma bela casa com jardim. E foi maravilhoso, falamos de tantos amigos comuns e de nossos pais, pois eu, a Izadora e meus amigos de uma vida toda têm em comum serem filhos de pais exuberantes, batalhadores, revolucionários todos à sua maneira ainda que apenas alguns tenham comido cana.
Somos filhos das mães que usaram calça jeans e mandaram todos tomarem no cu, o que era um pouco paradoxal e não nos escapava a nós, crianças inteligentes, que elas falassem palavrão sem errar a concordância.
E somos filhos também de pais que foram lutar suas lutas, esperando donas de casa dóceis em casa mas apaixonados por nossas mães até o fim, profundamente apaixonados, e então somos filhos dessas expectativas todas, desencontradas, mas apaixonadas, quanto ao que queriam para si e para o país.
É uma viagem que não podia ter sido melhor. No domingo, passeio com o Ogi pelo Eixão, livre de carros no domingo, skatistas, homens em cadeiras de roda com oxigênio entrando pela traquéia, famílias, mulheres cuidando do corpo, jovens, uma cidade no asfalto como todas as cidades são. Macarronada, mais conversas, filhos e sobrinhos, aeroporto vendo afinal a cidade em perspectiva. E vendo muito em perspectiva também, como devem ser todas as viagens.
Em Congonhas, como na ida, encontrar um pesquisador importante e trocar informações, promessas de colaboração.
Crônicas da Sala de Aula 