Em Brasília Dia 4

Ontem começou o congresso da ICA na UnB. Eu realmente tive dificuldade de prestar atenção às palestras. Quem me conhece vai achar que estou mentindo, mas não fiz pergunta, não levantei a mão, e nem mesmo pensei em algo que pudesse ser perguntado. Gosto tanto de fazer perguntas que montei ainda antes de terminar o doutorado um jeito de dar aulas em que eu tinha espaço para fazer perguntas. Os alunos também tem, claro, mas o fundamental pra mim é que eu possa perguntar. Nas minhas aulas há um aluno e uns 30 professores. Nós ontem aqui não fazíamos comunicação. Nem fazíamos teorias de comunicação. Nem fazíamos teorias sobre teorias da comunicação. Fazíamos teorias sobre teorias das teorias das comunicação. Então fiquei com a cabeça cheia de tudo o que aprendi nos últimos dias, e não acompanhei os raciocínios. No cocktail (é assim que escreve?) alguns conhecidos, um colega da Unesp, um professor que era de Rutgers, me senti um pouco deslocada, apressada para chegar em casa, ver o resto da novela, relaxar para conversar amanhã (hoje) com o Alessandro Molon. Conversa rápida, aliás, mas espetacular. Falei do gabinete online, ele ficou entusiasmado, pedi ajuda para o meu questionário eleitoral, ele ficou de ajudar, e aí contou da aprovação do Marco Civil, da riqueza que aquilo foi, e como aquilo deveria ser estudado. Concordo. A discussão, por mais marcada que tenha sido por interesses partidários, questões regimentais, foi um marco da discussão sobre liberdade na internet, obrigou as pessoas a se posicionarem. Vale mesmo um estudo. Lembram que falei que ia sair daqui muito bem impressionada? Pois o Molon é alguém que vocês devem conhecer, pois pensa como nós, pensa no interesse público, trouxe a voz da internet para o Congresso, gosta do que faz. E mostrou que é possível fazer. Quando digo pensa como nós, não falo em opiniões, em posicionamentos. Pois isso é decidido no debate. Mas o frame é o mesmo, as idéias sobre democracia, relação com a sociedade, razão pela qual ele está lá. E é preciso reforçar esse frame comum que nós temos como brasileiros, que nossos pais construíram e que é nossa obrigação manter para nossos filhos. Não consegui falar com ninguém do PSDB, e quinta-feira, pelo que me disseram, a semana já acabou em Brasília. Não acho que foi falta de interesse deles, pois a semana foi cheia mesma. Mas fiquei com a pulga atrás da orelha sobre a postura do partido no qual eu voto quanto às questões que são as mais caras para mim. Esse é o assunto que deve ser estudado. Como essa bandeira toda, a Lei de Acesso, o Marco Civil, está sendo levado pelo PT, como o PSDB está fora disso tudo. Qual a relação entre as ideologias, os interesses partidários, o momento (não só político, mas social) por que passa cada partido. E, enfim, como o Brasil é um país complexo, com ideologias indefinidas (e não estou criticando). Agora estou de volta ao congresso na UnB, discutem as relações entre os modos de teorizar nos EUA e América Latina. Para alguém que se sente como um fotógrafo lambe-lambe, tirando retratos de figuras públicas ou domésticas, ou no máximo, quando estou me achando demais, uma escritora judia, “que faz parte da tradição do humor judaico”, como já me disse o Moacyr Scliar, a discussão fica um pouco abstrata, pois nem teorizo nem me localizo muito bem. Mas vai ser legal, conhecer pessoas, falar de Jorge Andrade, comprar livros para os alunos, falar de meu esquisito paper… —— À tarde, entrei um pouco mais no clima, quem quiser ver o que estou fazendo, algum aluno, veja no site do ICA Brasília 2014. Waisbord sobre a necessidade de pensar o global e também o nacional conjuntamente, pois é na nação que os debates se dão. Um paper sobre memes, muito divertido, de um peruano que conhece alguns de meus amigos de Lima, um aliás que virou meio chavista. Óia, que a coisa na América espanhola é bem mais compricada que aqui nesse nosso sertão. As pessoas viram chavistas. Um paper sobre o poder dos movimentos sociais na América espanhola que deram super certo e aprovaram leis anti-mídia, que nem na Argentina. Eu disse que aqui foi distinto, que aqui a opinião pública barrou essas leis, e só não barrou o Marco Civil, que é outra coisa, totalmente diferente. O pessoal não curtiu muito, mas tudo bem. Aqui no Brasil, como disse, é tudo ao inverso. O PT lança proposta regulação liberal para internet, o líder liberal vai pro ministério do PT, os tucanos que seriam liberais enrustidos queriam que os provedores e sites fossem responsabilizados pelo que os internautas postam, é tudo ao inverso, só que três vezes. Por isso todos se confundem… Hoje, se eu conseguir, vou ver o famoso clube do choro, mas queria mesmo ver novela.

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Fui no Choro, que parece ser um ponto turístico aqui de Brasilia. Uma choro elétrico, meu colega peruano disse que lembrou Santana, e eu lembrei do choro de sábado na Vila Madalena, acho que semana que vem vou lá. A companhia foi melhor que a música, o que é bom sinal. Esqueci de dizer antes, mas os assessores dos deputados, a Mel Bornstein e o Fabricio Carbonel, também me causaram muito boa impressão. Organizaram as reuniões sem problemas, o Fabricio se mostrou bem knowlegeable com todas as questões importantes do mandato do Pimenta, com a Mel não tive tempo de conversar mas ela ficou de me ajudar nos próximos passos, pois a reunião com o Molon não cobriu tudo.

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