Querem um relato de Brasília diário?
Hoje foi sensacional. Voar é melhor que pegar expresso de Prata, e cheguei em Brasília mais rápido que chego em Marília. Aluguei um quarto perto da UnB, onde será o congresso, pelo AirBnB. Brasília realmente não é pra pedestre, quando você pede informação sobre ônibus as pessoas franzem os olhos. Mas entre táxis e filas na rodoviária, fui ao Congresso e voltei ilesa.
Às vezes a gente andando tem a sensação de estar atravessando um estacionamento de shopping nesse cidade, mas tudo bem. A intenção foi boa, os prédios são lindos, vamos lá. Falei com um jornalista muito mas muito knowledgeable de O Globo, comecem a ler o que ele escreve pois vale a pena, Paulo Celso Pereira, e amanhã vou falar com o André, do Lab Hacker do congresso, além de deputados.
Minha visita está coincidindo com a votação do Marco Civl da Internet, então amanhã também vou acompanhar a sessão na Câmara. Vai ser bem interessante. Já está sendo. Não sei se vou conseguir explicar o que estou sentindo, mas acho que todo mundo deve uma hora pegar um avião, ou ônibus, arrumar um pretexto e vim falar com uns deputados. Pode ser para discutir meio ambiente, direito reprodutivo, comércio exterior, voto distrital, seja o que for. Vem falar com os jornalistas e deputados sobre o tema, mostre as caras e vejas as caras.
É o nosso Congresso, não? Então é nosso direito. Mais: é nossa obrigação. Em São Paulo a gente tem aquela atitude mau-humorada, estilo José Serra depois de uma noite em claro dizendo desaforos pros assessores, diante dos políticos de Brasília. E não vamos mudar. E estamos certos, e eles que nos aguentem. Mas política não é só isso, não é só direito do consumidor. É vir, participar, ver. Não estou brincando, estou falando sério. Tem que vir e olhar as pessoas, falar, dizer uns desaforos, ouvir outros, quem sabe até fazer um elogio, dar uma sugestão.
Eu acredito na internet. Quero um diálogo online, onde o deputado tenha que ouvir o ruído dos bits. Mas nada é mais valioso que o contato face-a-face. Olha, não estou dizendo que isso aqui é uma ágora grega. Sobre isso, leiam o fantástico Pericles and the Birth of Democracy, tem uns relatos supimpas sobre o mau-humor dos agricultores gregos que madrugarem para chegar a Atenas e depois tinham que esperar os grandes oradores acordarem para a assembléia começar com o sol a pino!
Pelo contrário. O prédio, apesar da proposta modernista, é meio confuso, desorientador. Não sei exatamente por quê, não sei se são os guardinhas a cada canto, os detetores de metal, as proibições de entrar aqui e ali, mas no Brasil a ágora mais generosa acaba virando um labirinto de vielas de um bairro subnormal. Ah, não pode entrar na galeria com celular. Nem com som desligado. Nem com computador. Nem com câmara. Tá. Agora essa: nem com bloquinho de papel e lápis. Como é que todo mundo aceita isso eu não sei. Mas não pode.
Com tudo isso, acho que ainda vale a pena. É nosso Congresso. É o único Congresso que temos. Entender como esses homens pensam exige um esforço brutal. Mas é um esforço que vale a pena, pois a democracia vale a pena.
Essa do veto ao bloquinho de papel ou nao conhecia. É para garantir que nao se escreva o que dizem?
Eu insisti de todos os modos, mais eu teria sido presa. Pelo que elas falaram, sim, é que nada pode ser registrado, nem anotado. Pode ser que oficialmente a desculpa seja para não jogar nada de cima nos deputados, mas se fosse esse o caso eles poderia entregar bloquinhos de papel jornal com mini-lápis, por exemplo. Acho que é pra desestimular as pessoas a usarem o espaço livremente… Por isso é importante ir.
Adorei seu relato, Helô! Vou ler os outros posts.
Isso do bloquinho é um absurdo! Temos que ver com quem falar para mudar isso.
Abração!
O engraçado é que depois com um jeitinho entrei sem problemas. Não vou contar aqui pra não entregar o osso, mas depois eu conto como fiz.