Um espaço que se abre

No sábado fui na abertura da exposição de Rubens Zaccharias, na Galeria Nuvem, em Pinheiros. Não entendo muito de artes plásticas, mas amei e vou dizer o que gostei na obra do Rubens.

Primeiro, um contexto: conheci o Rubens pois ele é amigo do Jacques Jesion, também artistas plástico, uma das pessoas mais engraçadas que conheço, além de grande artista. Quem já veio em casa deve ter visto coisas dele, tanto na Paulistânia quanto na Martinico, onde ele morou e “deixou” um quadro e um abajour.

Um dia fui numa festa na casa do Rubens, e a tantas horas dois homens começaram a discutir, ou melhor, brigar mesmo, sobre o legado de Niemeyer. Pra mim foi um alívio. Eu saía de um período de discussões estéreis na faculdade, e até que enfim alguém brigava por algo que tinha significado! Também se discutiu, mais levemente, o Go, a música, a arquitetura paulistana, os cantos escondidos da cidade, coisas boas, gente boa.

Então quando chegou o convite para a exposição eu tinha que ir, pois era certeza de coisa boa.

Os quadros tem algo de plácido. Mas não é um plácido ingênuo. Parece um plácido depois de uma tempestade enorme. São paisagens brasileiras, mas como o Rubens falou, não é a representação contida em linhas abstratas e sim as linhas se transformando em natureza. É bonito, vão ver.

Logo na primeira sala, uma série de quadros pequenos, deitados, um ao lado do outro, que me lembrou, na forma, as fotos que tiramos com nossos celulares, sucessivas, como se quiséssemos captar o horizonte todo.

Na sala oposta, com uma janela para a rua, uma surpresa. Dois quadros enormes, um de frente para o outro, numa sala pequena. Em geral, vemos esses quadros em espaços grandes, e os vemos de longe. Ali, ficamos entre os dois quadros, quase imersos naquele espaço que se abre e parece suspender todo o resto.

Para Rubens, a idéia é essa mesma: sairmos de uma realidade esquadrinhada, ao menos no tempo em que usufruimos a arte. E quando você pinta?, alguém perguntou. Quando se pinta, nem tanto, ele diz. Há o trabalho, o cálculo, estamos em parte na neurose do dia-a-dia.

Individualmente, sem pensar no espaço, o quadro que mais gostei está suspenso acima da escada, um quadro de contrastes, um mar azul petróleo muito escuro, num céu nublado muito claro, dá vontade de ficar olhando olhando.

Puxa, essas coisas não são baratas. Mas pensem um pouco no quanto gastamos com bobagem. Ontem entreouvi um sujeito falando que entre um carro e uma viagem, preferia sempre trocar o carro. Como assim? O carro ele curte muito por três anos. Mas a viagem acaba e não sobra nada.

O quadro então deve vir em terceiro lugar, na hierarquia desse homem com quem em comum tenho apenas ter me sentado na mesma sorveteria no mesmo momento na longa história desse planeta: Ao contrário da viagem, o quadro nem chega a começar. E ao contrário do carro, nunca vai nos levar a lugar nenhum. Talvez seja o bem mais precioso de todos, então, mesmo que para mim uma viagem nunca seja cara…

Procure conhecer o Rubens também, ouvi-lo é parte da experiência! O email dele está no blog, acima há o contato da galeria, veja se você vai num dia em que ele vai estar lá também!

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