Dressing Well

Se você for feminista talvez nem deva ler esse post, repleto de comentários politicamente incorretos. Só vou falar do que sei.

É que a essas alturas do campeonato, resolvi me vestir melhor. Começou com a mudança, quando joguei fora dois sacos de lixo desses pretos, sacos do condomínio que pedi para o Moacir, repletos de roupas, e trouxe apenas o que era bom para cá. E não ficou aí. Outro dia disse para a Renata: continuo jogando coisa fora. Ela: eu também, se vejo que não estou usando, de tanto em tanto tempo faço um rapa. Eu: você não está entendendo, eu estou jogando justo aquelas roupas que eu uso sempre, que são confortáveis, horríveis. Ela: puxa, a coisa é séria, então!

É, a coisa é séria.

O guardinha do restaurante do lado direito, que sempre me cumprimenta quando vou à padaria, outro dia fez o mesmíssimo cumprimento, só que para os meus joelhos. Foi engraçado. Talvez para um menina ainda insegura de si tivesse sido desconfortável, ser tratada como se fosse ela inteira um joelho, uma mera ainda que importante articulação femoral. Para mim, foi inesperado. Sou um joelho.

Notei o olhar das mulheres, e lembrei o quanto isso me impediu de fazer no passado o que estou fazendo hoje. O olhar das mulheres, de ódio e reprovação, eu não queria. Talvez gostasse mais das mulheres que gosto hoje, sei lá. Talvez o olhar me botasse medo, não sei. Minha analista me deu alta e então há coisas que não tenho como saber, já disse. Mas de qualquer modo o olhar não tem me incomodado, apenas surpreendido.

Meu médico outro dia, médico de 20 anos já, perguntou o que tinha acontecido, que eu estava diferente. Ele não sabia o que era, é um cara distraído, e eu não listei: o shortinho amarelo, o cabelo fashion, as unhas cuidadas, a sapatilha. E depois começou a falar de alguma coisa que eu teria dito, mas não poderia ter sido eu. Pode parecer estranho, mas acho que ele me confundiu com outra paciente. Não que não soubesse que era eu ali na frente, mas eu entrei em outra categoria e seu cérebro embaralhou.

Não me leve a mal; continuo detestando a idéia de sapatilha, que é um sapato que não gruda direito no pé nem te protege das coisas no chão. É uma idiotice completa, não sei quem foi o cretino que inventou e se foi homem eu quero que ele vá parar numa ilha deserta onde o único calçado disponível seja a porra da sapatilha. Mas encarei a coisa. Às vezes é preciso encarar as coisas.

Não pense que se vestir bem é só torrar metade do seu décimo terceiro no shopping não. Não é tão fácil assim. As roupas devem cair bem. Devem combinar não só as cores como os volumes. Há roupas que você compra e depois tem que ajustar, outras que vêm com defeito e a loja não quer trocar de jeito nenhum. É um verdadeiro inferno, para quem como eu tem necessidade de ler três jornais diários para se inteirar minimamente do que acontece na arena internacional. Escolher um batom é mais difícil que acompanhar a legislação americana sobre a questão da privacidade online.

A verdade é que não estão me reconhecendo. Uma amiga da minha mãe outro dia se emocionou, e você sabe como são as judias, se eu não saísse logo de perto ela diria que era uma pena minha mãe não estar lá para me ver, e ia ser aquela choradeira, por conta de uma bermuda verde-água de griffe. Agora, cá entre nós, vou contar só pra vocês, o olhar de ódio das mulheres na rua não tem me incomodado. Mas o olhar incomodado de uma rival que em outros tempos eu teria visto como imbatível, esse tem me dado – segredo, hein? – um raro prazer.

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