De modo inesperado e sem avisos, Tancredo Neves e Miguel Arraes supreendentemente desistem das duas mais sólidas candidaturas a presidente do Brasil em 1984 2004 2014. Numa declaração conjunta, os falecidos políticos apresentam ao país seus netos, Aécio Neves e [checar nome], como alternativas para a dicotomia que ameaça levar o país a um novo 1930 1964. Vestidos de modo idêntico, com o absoluto mesmo sorriso nos lábios, os dois netos prometem trazer ao país as mudanças que tanto o presidente Fernando Henrique Cardoso lhes tem ensinado que o país precisa, mesmo que as aulas às vezes sejam um pouco monótonas e repetitivas.
“Eficiência da máquina pública, respeito absoluto à ordem jurídica do país e…” prometeu Aécio, “…justiça social!”, complementou o outro jovem candidato, mostrando não apenas afinidade entre dois dos possíveis futuros presidentes do Brasil como também boa capacidade de memorização e improviso. Os dois candidatos ressaltam que não há nenhuma conivência política em sua aproximação. “Somos os dois bem nascidos, jovens porém já experientes, bonitões, sem que falte jamais ao nosso guarda-roupa trajes esporte, para eventos ditos populares, nem formais, quando temos que aparecer diante de empresários que acreditam que temos condições de administrar uma padaria ao menos”, disse um deles, obtendo a concordância imediata do outro: “Não há por que combatermos em trincheiras opostas. Meu colega não comentou, mas somos também homens, heterossexuais convictos e sem deslizes – podem investigar – e, para os padrões latino-americanos, que é o que importa, brancos.” A platéia de correligionários presente ao evento onde as novas candidaturas foram anunciadas lembrou também dos relógios bacanas que os dois políticos iniciantes portam com absoluta consistência, na esfera pública e privada.
“Também nunca fomos acusados de crimes graves, sejam eleitorais ou penais, o que pode agradar a uma respeitável minoria de eleitores, fortalecendo nossas candidaturas. Nunca mandamos silenciar opositores de modo violento, o que pode diminuir nossa rejeição perante setores com forte apego democrático, também bastante minoritários mas com espaço na grande imprensa,” continuaram os candidatos em uníssono. “Pode não parecer nada, mas a eleição será apertada e essa coisa de democracia, que parece agora um detalhe, pode acabar sendo a disputa de pênaltis de 2014!”
E painho ACM, que achou disso? Vai concorrer ele mesmo ou apoiar o neto?
Essa é uma pergunta delicada, quase insensível. Pois a dor da perda do filho de ACM ainda é sentida não apenas pelo coronel e pelo professor FHC, mas por todos que o conheceram e que compartilharam com o então deputado os momentos de embriaguez política e entrega ao devaneios da vida pública, entre eles o próprio Aécio, um verdadeiro sobrevivente dessa jornada. Então quanto menos se falar, melhor. Quanto ao neto de ACM, ele é dificilmente visto na arena pública, especialmente depois que seu partido, ao invés de se tornar uma alternativa conservadora decente, sumiu, para o que contribuiu enormemente a deserção do líder pequeno burguês (veja post anterior) Guilherme Afif Domingos, num episódio ainda não totalmente esclarecido, para o flanco patrimonialista.