Eleições disputadíssimas

Amanhã vão concorrer um ex-secretário estadual da saúde, um deputado federal e um vereador de São Paulo às disputadas eleições para o conselho deliberativo da Associação Brasileira “A Hebraica” de São Paulo. Não há nada de errado em um político eleito participar da vida comunitária de um clube esportivo; acho até que pode ajudar em… bom, não sei bem em quê. Mas não há nada de errado. E que pique! Sábado pela manhã, o vereador Floriano Pesaro no corpo a corpo com as senhoras ídish do clube, que o inquiriam sem dó. Ele ia explicando onde havia morado pela cidade, quando, quem conhecia e de quem exatamente era aparentado. Quem frequenta o clube sabe que isso pode ser pior que sabatina no senado.

Meu voto, eu já twittei, vai para o Salomão Tessler, candidato que corre por fora, com a proposta de reduzir o valor das mensalidades e dar transparência aos gastos do clube. Um clube para todos, é seu lema. O texto do material de campanha não chega a ser um Kafka, na verdade. As coisas têm lógica, mas não muita gramática. E temos todos que ser Kafkas? Tenho ouvido muito que o clube é elitista, que se você não tem grana não é bem visto. Eu, particularmente, nunca notei. Mas pode ser falha minha, pois não dou muita bola para o modo como me olham.

Salomão me chamou a atenção por ter o mesmo sobrenome que um conhecido meu, professor da Unicamp, que conheci profissionalmente e respeito. É tio. Mas gostei das propostas também, do modo outsider, do tal Salomão. Pode ser que os políticos tenham vindo ao clube para apoiar uma renovação, não sei. Pode ser que toda a comunidade esteja meio cheia do tal clube elitista de mensalidades pesadas. Não tenho como saber. Mas o Salomão, pedindo votos com uma placa pendurada no pescoço como um comprador de ouro da Barão de Itapetininga, resgata algo interessante sobre nossa comunidade tão plural.

Que há os donos de indústria e os que precisam de caridade. Que há doadores da reforma das piscinas e os que precisam de desconto no clube. Que há os reitores fazendo cooper e o pessoal do Haverim. Que há os que a vida abençoou com o sucesso – e sem esses não teríamos nossas instituições – e os que andam meio mancando, os chamados neberes que, ao contrário dos losers americanos, tem algo positivo.

Se eu fosse Simmel, escreveria um ensaio sobre o neber enquanto forma social. Diria algo como: o neber não é um total fracasso. Ele representa a síntese entre o fracasso e o sucesso. Na parca inteligência do neber o sucesso do homem bem estabelecido é dimensionado, relativizado. Ele nos diz: “não sou tão distinto de você; um golpe de sorte e estaríamos em lugares trocados.”

Mas não sou exatamente um Simmel, e então não vou escrever sobre o neber. E, pensando bem, nossos heróis que têm livros citados, ganham estatuetas e prêmios de academias suecas, não são nem eles tão heróis assim. Quem é que teria Kafka, por exemplo, como modelo de alguma coisa? Kafka não é Hemingway. Então amanhã, tendo tempo, vou precisar buscar alguns outros nomes, neberes ou líderes estabelecidos, mas de preferência os primeiros, para completar minha chapa a essa decisiva eleição da Hebraica.

Publicidade

Uma resposta em “Eleições disputadíssimas

  1. Já achei mais 5 candidatos, faltam só 19. Anita Novinsky, pelo gabarito intelectual, MIlton Jungman por já ter ouvido falar do nome e talvez ser esse aqui (http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/3/3136/tde-03042006-234023/fr.php), Miriam Oeslner por ser pesquisadora sobre judaísmo, Rafael Holszhacker por ter feito natação comigo e William Raimundo Pinto pela chutzpa de se candidatar ao conselho com esse sobrenome. Sugestões para os outros?

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s