Não sabia que o candidato pernambucano a presidente do Brasil era neto de Miguel Arraes. Sobre Arraes, sugiro a leitura da fascinante investigação sobre as relações entre Brasil e os Estados Unidos em meados do século XX, feita por Ricardo Alaggio Ribeiro, em sua tese disponível aqui.
O resumo da tese, que realmente vale a pena ler, pois é muito bem escrita, é o seguinte: JK queria $ estrangeiro para fazer investimentos, mas os americanos sob Einsenhower estavam preocupados com a Europa. JK fez os investimentos do mesmo jeito, mas teve teve inflação e tal. Depois JFK queria o desenvolvimento dentro do marco democrático na América Latina para evitar nova Cuba e criou a Aliança para o Progresso, que tinha recursos até para reforma agrária!. Mas aí quem já estava no poder era o tosco do Jango e não rolou.
Kennedy foi assassinado, as tensões no Brasil se agravaram, os americanos perderam a paciência e teve o golpe. A história é muito triste, pois relata todas as oportunidades de colaboração perdidas nessa curta década que determinou a história do Brasil até a redemocratização. E quem não queria os projetos de desenvolvimento – alfabetização, irrigação – financiados pela Aliança para o Progresso, com prioridade para o Brasil e em especial para o Nordeste, que na visão de Kennedy poderia ser uma nova Sierra Maestra?
Arraes.
Mas por que, o leitor pode se perguntar, Arraes não aceitou a ajuda do Kennedy? Aí não sei, não tenho pesquisa que explique. Por isso vou contar um causo, que não tenho como comprovar, mas que me pareceu verossívimil.
Era no ano 2000 e fui para Cuba para um congresso sobre comunicação. Depois de duas semanas em Havana, que gostei muito, fui para o interior, e fiquei numa pousada onde o dono me contou a cena a seguir sem amargura pois a história parecia antiga, mas com a resignação que vem depois que a amargura se foi.
Ele havia sido ministro da agricultura e numa certa altura o governo havia pormetido um crédito agrícola, que deveria ser liberado em breve. Na reunião ministerial, quando foi a vez dele, deu relatos sobre a área de sua alçada e perguntou: “Comandante, teremos mesmo o crédito agrícola?” Fidel falou de outros assuntos e depois houve mais uma rodada para os ministros. O estalajadeiro retomou: “Comandante, que digo aos agricultores sobre o crédito?” E Fidel olhou-o bem nos olhos e perguntou:
“E se dermos agora o crédito, em 5 anos esses agricultores serão amigos de la revolucion?”
Neto do coronel Arraes, sim senhor!
O ponto de vista da engenharia de controle é simples. Sistemas com comando independente (malha aberta) são frágeis quando sujeitos a erros na medida de tempo.
No caso, o governo progressista JFK estava atrasado em relação ao igualmente progressista JK. Para evitar oscilações e instabilidades, é necessário fechar a malha de controle com realimentação de forma cautelosa.
O sistema que trouxe a dobradinha Jânio-Jango era um controlador “greedy”, imediatista – quem tem mais voto faz o que quiser por 4 anos. Em controle diríamos realimentação de alto ganho, tipicamente não-robusta quando sujeita a atrasos.
O caminho para evitar essas instabilidades é o voto em 2 turnos, com chapa unificada para presidente e vice, somados aos checks and balances dos poderes da república. O governo agindo lentamente, tentando montar um acordo dispendioso para obter maioria para um projeto, é o preço que tem que ser pago para ganhar margem de estabilidade – controladores lentos e sub-ótimos. Podia ser pior.
não entendi nada. qdo jk estava no gov, não era jfk.