Mulheres na Política

Há mulheres na política que são admiráveis. Que me enchem de orgulho, mesmo quando não concordo com suas idéias. Sou grande fã da Condolezza Rice, por exemplo. Por sua cultura, sua integridade, por sua dedicação ao país, sua humildade. “Sei executar políticas, não deveria ter aceito ser o cargo de conselheira”, ela disse depois de sair do governo. Admiro Condolezza também por ter enfrentado com dignidade a segregação americana, quando ainda era jovem.

Também olho Thatcher com respeito. Não sei tanto sobre ela, e sei que muita gente boa critica suas políticas. Mas ela foi coerente: viu um problema, deu um diagnóstico, e o atacou. Admirável isso num ser humano, e numa mulher ainda por cima a capacidade de seguir adiante mesmo debaixo de críticas. Ela dava a direção, tanto na política interna quanto na externa; ela é que era “o homem” na relação com Reagan.

A Dilma, eu discordo tanto das políticas, que me dizem respeito tão diretamente, que é difícil vê-la com muita simpatia. Mas eu a vejo como uma mulher de verdade, e a respeito por isso. Uma mulher que lutou, que perdeu com dignidade, foi tocar a vida e entrou na política de modo legítimo, ainda que pelo braço de um “pai”. Mas isso não é privilégio das mulheres; no Brasil e na políitica em geral há os padrinhos. E se foi escolhida por Lula ela o foi por seus méritos, de qualquer modo.

Ser mulheres não é garantia, entretanto, de inteligência ou dignidade. A chanceler alemã Angela Merkel é uma imbecil que está levando a Europa ao desastre econômico. Ela posa de Thatcher, e alguns comentaristas de esquerda podem se confundir com essa pose, mas não há semelhança alguma entre uma mulher que salva uma economia do desastre e outra que leva um continente a ele sem razão nem pretexto algum; por burrice apenas, burrice a que o gênero não nos obriga nem livra.

No Brasil ainda somos poucas na política, o que é pena, pois poderíamos contribuir mais. Poderíamos trazer relações melhores aos partidos que me parecem jurassicamente machistas. O torno mecânico, a secretária analfabeta, essas coisas que os anos 80 varreram da vida das pessoas comuns ainda sobrevivem firmes e fortes nos partidos brasileiros. Ainda somos poucas, e dá vergonha quando uma dá dez passos atrás em nossa luta por espaço e respeito.

Pois foi assim que vi o vai-e-vem de Marina Silva nesses últimos dias, com vergonha por termos feito um papelão em escala nacional. Pois o que vi foi uma mulher sendo apresentada num baile de debutantes, em busca do melhor partido. Não do homem de melhor caráter, mas do melhor partido no sentido mais baixo do termo: com mais cacife, mais chance-de-se-dar-bem, mais jovem e ousado. É um sujeito que até onde sabemos pode ser um Collor, pois nos Estados não há imprensa livre que descortine os descalabros dos políticos; só lhes conhecemos as maracutais quando enfrentam a imprensa nacional, essa é que é a verdade.

Então o novo partido era apenas isso: um lugar para se exibir, para ser cortejada, para mostrar que estava disponível mas que não era para qualquer um. Não era para o velho – e digno – Roberto Freire, por exemplo. Talvez então ela nem quisesse de fato a criação do partido, que a princípio eu achei apenas tola. Talvez o objetivo fosse mesmo aparecer ferida no baile, para ser consolada pelo primeiro que aparecesse, do governo ou da oposição. E se depois o fulano a decepcionar, o que certamente acontecerá, novo choro e consolo.

Tudo bem. Quem sou eu para dizer que os antigos modelos não servem? Por que devemos ser todas Condelezza Thatcher? Nada contra em se andar dez passos atrás, cada um é que sabe a dor e a delícia de ser o que é. Só gostaria que não fossem no processo questionadas as instituições brasileiras, que andam muito bem. Marina diz que foi cassada e que quer “sepultar a Velha República”. Não é verdade. Ela apenas não teve esse jogo de cena endossado por seus potenciais eleitores.

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2 respostas em “Mulheres na Política

  1. Acho que você está sendo injusta com Merkel. Bitolada com certeza, imbecil não me parece. Ela está fazendo o que o eleitor quer para o país dela. O desastre é a zona do euro, que ela não comanda. Uma pessoa de visão faria a burocra de Bruxelas rever toda a estrutura, talvez; mas não é a responsabilidade da chanceler. Ah, ela também subiu com padrinho, como todo mundo, exceto é claro Thatcher.

    Acho que na busca da inocência projetaram na Marina algo que ela não é. Teriam escalado um homem para esse papel? Talvez não. Mas a falha dela não é feminina, é de competência e honestidade.

    No neto do coronel Arraes, me chama a atenção é como o político do Nordeste precisa ser branco. Aqui em S Paulo não tem que passar por teste de cor de pele tão rigoroso.

    • A falha é humana, de se encaixar feliz num papel de gênero arcaico quando tantos novos papéis já se nos abriram. Não existe falha feminina ou masculina, mas acho que existem passos que envergonham mais as mulheres e esse é um deles.

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