Tivemos que ler tanto o livro do Gorender na faculdade que agora que ele faleceu um amigo me mandou o link, sem nada no email, pois sabia que eu já me lembraria das tardes na bilbioteca da FEA lendo o Gorender.
Que em “Escravismo Colonial” sustentou a tese, repleta de estatísticas, de que a empreitada escravista no Brasil era um produto capitalista. Que os senhores de escravos faziam cálculos maximizadores na hora de investir em escravos e cuidar de sua “manutenção”.
A tese é elegante mas o volume de leituras era exagerado. Deveríamos ter lido Faoro, claro, o leitor já adivinhou. Deveríamos ter comparado várias leituras, que é também o que não proponho nos meus cursos. Sempre querendo dar uma “visão alternativa”, acabamos virando ideólogos. Paciência. Erramos.
Erramos nas nossas teses e nos métodos de ensino. Erramos nos processos de avaliação e seleção. Erramos com intenção e sem querer. Quando seguimos outros ou quando agimos sem ouvir ninguém. Com maldade ou querendo fazer o bem.
Que Gorender encontre à frente um Deus piedoso, e que interceda por nós quando precisarmos.
Curioso que o Faoro também investe bastante tinta demonstrando que no Brasil colonial não havia feudalismo. Para ele havia patrimonialismo, uma forma de capitalismo de estado.
Sim, o Gorender não era bobo. A tese não estava correta, mas foi erro sem intenção. Ambos perceberam que aqui havia algo distinto da história européia escolar. Mas o Gorender achou que era uma forma especial de capitalismo. E o Faoro foi buscar em Portugal a chave de tudo. Acho que Faoro está correto. O que não quer dizer que, no Brasil, os senhores de escravos não tenham tido uma mentalidade contábil de tipo moderna, que servia aos interesses comerciais da Coroa. E lembrando que não reli o livro desde que me formei, e posso estar errando em detalhes ou mesmo na tese central. É o que me lembro.