Vocês sabem que sou contra a greve. O salário dá pra pagar as contas, as agências de fomento e mesmo o apoio pontual da Unesp para projetos ajudam a pagar computador, livros e outras coisas necessárias ao nosso trabalho. Quem acha que tá ganhando pouco o país é grande e estamos em pleno emprego. Seria diferente se num hospital não houvesse gaze nem salário condizente com o cargo. Não é o caso na Unesp.
As salas de aula não são luxuosas mas dá pra dar aula, temos acesso aos periódicos que queremos, os alunos são muito bons e, no fundo, vou confessar: gosto de dar aula. Gosto e pronto. Acho demais encontrar gente jovem e passar adiante o que sei e ver o que eles fazem com isso. É segredo, não contem pra ninguém, mas gosto. Vem de casa.
Quando minha mãe estava esperando um diagnóstico de câncer – esse ainda não era maligno – ela disse para o alto, como quem fala consigo mesma: “Vou sentir falta dos alunos.” Não ter alunos, naquela frase, estava associado à morte. Claro que achei na época a frase absurda. Mas hoje faz sentido.
Então quando os alunos entraram em greve desta vez, eu continuei dando aulas para meia dúzia. De três, mas eram três que valiam mais que uma dúzia. Não os culpo, pois no meu entender a greve é gestada no reitor em férias, no diretor sem direção e assim por diante. Então não tenho a intenção de punir ninguém, mas também não quero que o semestre se interrompa. Difícil saber o que fazer.
Agora os professores vão entrar em greve, assim como os funcionários. Não apóio nem uma coisa nem a outra. Não vejo sentido, nem sei o que pedem e para quem exatamente. Mas vir à Unesp deserta eu já acho que é dar murro em pontas de facas, com os dois punhos. Não dá. Então aviso ao contribuinte que, a não ser que algo mude substancialmente nos próximos dias, vou estar trabalhando em casa e atendendo alunos por skype.
Eles mesmo concordaram que aulas particulares como tem sido as ultimas três já se esgotaram. Foi legal, aprofundamos temas que talvez numa aula maior não poderíamos. Valeu. Hoje à noite ainda faço meu plantão à noite, na lanchonete da Univem, mas provavelmente dali em diante o curso continua online. Há professores que querem cancelar completamente o semestre, eu não vou conseguir fazer isso, pois dei já 80% do conteúdo e estou na reta final do curso, quando eles em geral estão mais preocupados com o trabalho final que com as aulas em si.
Não vou conseguir dizer que tudo o que fizemos, nesse que prometia ser meu melhor curso na Unesp, não valeu. Para mim, com problemas, esse curso valeu e vou avaliar os trabalhos pelo seu mérito e não pelo entorno institucional. Você paga meu salário, é seu direito saber. Posso cometer erros, mas assumo o que faço e o que faço é racional o suficiente para eu vir aqui explicar. Obrigada.
Gostei do post. Sua mãe era o máximo e me deu aulas de matemática e estatística. Talvez o salário não seja bom, mas o prazer de ensinar “não tem preço” (plagiando a agência que fez a campanha do Credicard)
Saudades
Luiz
Obrigada, Luiz!
Outra da minha mãe era: “No trabalho tem que andar de costas para a parede pois senão a gente…” Mas essa citação seria para outro post.