Post curto sobre as tentativas do Bloomberg de reduzir a obesidade, que é de fato algo preocupante nos EUA. É uma doença debilitante, que reduz a expectativa de vida dos adultos e coloca uma responsabilidade enorme nas costas dos jovens.
Mas Bloomberg parece estar vendo a coisa como uma conta de menos: as pessoas devem gastar mais calorias e consumir menos. Devemos frear o consumo exagerado de calorias. Só que o que nós queremos, e que é um pouco óbvio para nós, talvez um pouco menos para os americanos, é maximizar o prazer com a comida, e não necessariamente comer mais.
Um prato de comida depois de nadar dá um prazer enorme. Comer com a família é muito bom. Comer com tempo é melhor que com pressa. Comer com colegas que gostamos (e mesmo que não gostamos, só pra ter o que fofocar depois) é melhor que sozinho. Comer algo que temos uma idéia de como foi feito é melhor do que comer uma pasta disforme. E assim por diante. Ser servido com atenção é melhor que ser tratado como um porco.
No plano prático, legumes cozidos tem poucas calorias. Mas são uma chatice. legumes grelhados com azeite e sal tem mais calorias, mas são deliciosos, e competem com um bife, especialmente com um bife mal feito. Eu tenho a impressão de que quando os americanos falam em healthy food eles falam de comida sem gosto. E aí a coisa “backfires”: o cara come coisas sem gosto, e fica mais frustrado, mais necessitado de porcarias.
Em termos de políticas públicas, o objetivo deve ser maximizar esse prazer de comer, para que as pessoas comam naturalmente menos. Mais tempo para o almoço nas escolas e empresas e comida melhor. Centros culturais com bons refeitórios, agradáveis, estilo Sesc. Investimento numa cultura culinária e numa cultura do comer junto. Mais atividade física, óbvio.
Proibir o consumo de baldes de açúcar – é um pouco ridículo, mas tudo isso é um pouco ridículo.
A questão é: o açúcar está no lugar de algo que falta, esse prazer de comer. Os americanos precisam aprender a ter tesão com a comida, penso, e não a cortar calorias. Enfim, qualquer hora desenvolvo isso. Mas se alguém quiser escrever uma equaçãozinha do prazer de comer e mandar para o Bloomberg, acho que seria útil.