Defesa pura e simples da liberdade de expressão

Saiu na mídia algo sobre esse evento no iFHC, então acho que pode valer a pena trazer minha perspectiva também. A programação está aqui. A frase citada no artigo, de FHC, está obviamente errada. Nós na verdade temos a alma democrática e não a arquitetura. Mas foi mais ou menos o que ele disse, a citação está correta até onde me lembro. Pois nós temos a alma mais democrática do planeta. A mais tolerante, sem ser indiferente. A mais livre, sem cairmos nunca do caos. O que nos falta são sempre as instituições, as leis, os processos políticos que expressem essa alma livre. Acho que é por não acreditarmos nessas coisas todas, por não investirmos nelas. Quando percebemos que temos que nos dedicar um pouco até que as construímos direitinho. Mas não é prioridade brasileira, como o é a construção paulatina de uma cultura diversa, tolerante, experimental e coletiva. Enfim. O debate:

Na primeira parte falaram os teoricos, acadêmicos, propondo soluções para os meios de comunicação. Disse o representante da Fundação Adenauer: “a solução para o jornalismo será encontrada pelos jornalistas. Mas…” E aí começou a listar iniciativas que colocariam a imprensa livre sob as rédeas dos governos. Subvenções. Apoios. Os meios de comunicação são uma espécie de problema. As grandes empresas de comunicação usam o discurso a favor da livre expressão na verdade para defender seus próprios interesses, alguém sustentou. É preciso uma terceira via. Um caminho alternativo, equidistante do Estado e do mercado. Enfim. A mídia seria “um problema”, como as drogas, a violência. Como combater o tráfico? Como coibir a violência? Como resolver a mídia? Esse parecia ser o tom, como se a comunicação humana precisasse de políticas públicas. A comunicação humana, essa coisa de 40 mil anos, 4 mil de escrita, esse espetáculo da vida a que todos os dias deveríamos ser gratos. Mas ela precisa ser consertada, medicada, regulada, aprimorada.

A segunda parte começou nos colocando na realidade da vida latino-americana. O Equador. Veículos de comunicação fechados. Direitos erodidos. Ataques. Foi o melhor palestrante! Falou claro, e retomou a clareza nas considerações finais. É também nossa realidade, talvez não nos grandes centros, talvez de modo mais acintoso em estados de outras regiões do Brasil. Mas é também a nossa realidade. Um blogueiro perde a vida. Um jornalista se muda de seu estado para permanecer na profissão. Um jornal tem uma notícia censurada. E ninguém se importa. As universidades não fazem greve. Os intelectuais não dizem nada. Não há comoção. Apenas os meios de comunicação se indignam. Enfim. Depois veio o representante do México, com algo que me incomodou profundamente. Justificou o assassinato de jornalistas que seriam ligados ao narcotráfico. Eu nunca ouvi isso no Brasil e espero nunca ouvir. Um assassinato é um assassinato. Talvez de fato algum jornalista tenha uma sobrinha que namora com um traficante, talvez de fato algum tenham silenciado sobre um incidente qualquer, mas não morrerram por causa dessas ligações, verdadeiras ou não, e sim por causa do incômodo que causaram com alguma notícia, exercendo a profissão.

Mas não era sobre os ataques à vida que o debate se deu. Isso parecia menor. O importante era buscar alguma regulação, algo que se contrapusesse a uma certa “superficialidade” dos meios de comunicação. Por que fechar um veículo, matar um cidadão, se a coisa toda é tão vazia e superficial? Não faz sentido. Perguntei por que não defender a vida, a propriedade, a livre expressão e pronto, assumir o discurso liberal. Condescendência. Ah, o liberalismo. Ah, o mercado. Eu parecia ver o PSDB num raio-X. Raio-X é a palavra certa, não é ressonância magnética. É algo arcaico mesmo. Uma ideologia antiga, que não vê esse novo liberalismo global chegando com força aqui – e sendo construída aqui – aos quais os jovens se ligam tão facilmente, com tanta indiferença às ideologias de ontem. Pensando de modo liberal apenas porque é parte de sua experiência, suas navegações na internet, suas escolhas sexuais, sua vida urbana e livre. Parecia no debate ainda haver uma necessidade de se opor ao liberalismo, visto talvez com Roberto Schwartz como algo fora de lugar, inadequado, inapropriado, escuso, a serviço de alguém. Como se ainda vivêssemos na guerra fria e precisássemos nos juntar aos tais países não-alinhados. Como é que vou continuar sendo de esquerda? O debate parecia ser mais uma questão de identidade do que realmente de enfrentamento dos desafios democráticos na era da comunicação. Que são muito reais. E que merecem, mais do que reflexão, posicionamentos éticos.

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