Era mais como se fosse um cão. Um cachorro fiel, alerta e contente. Daqueles que vemos nos parques, tentando adivinhar para onde o dono lança a bola.
Era assim que minha mãe pulava da cadeira quando, depois do jantar, meu pai dizia reticente: “Rosá, será que teria…?”
E ela ia fazer café. “Só se já tiver pronto”, ele completava, a voz nítida. Mas a bola já estava longe, o cão compenetrado na tarefa, feliz.
Não era machismo nem feminismo. Não era gentileza nem papel social. Era coisa de bicho.
Para mim, era um mistério, o café. O salto até a cozinha, a melhor xícara, o melhor sorriso.
Hoje pensei. Não era bicho a mulher que chutava a porta do elevador? A professora que dizia à reitora que esta agia sem reflexão? A mãe que nos chamava de abutres e depois queria saber se gostávamos dela. A mulher que se deitava na cama de um homem e em seguida se levantava pensando ainda estou casada.
Ações não são lógicas. Se espalham pela vida em direções contrárias. Mas modos de ser são coerentes, compactos. Cada um tem o seu. E se como cachorro ela nos lambia e mordia, por que não também como cachorro rosnar com ódio e se adiantar aos desejos do meu pai?
Podiam ter me explicado antes, eu presto atenção. Mas não. Só agora me veio esse homem, um gato quieto e interesseiro, me dizer que não há nada errado em servir café.