Ouvi no rádio hoje um urbanista falando sobre a cracolândia e achei a primeira frase tão sem propósito que logo desliguei. Pena, deveria ter ouvido. Ele começava dizendo que a área da cracolândia foi exagerada por especuladores que queriam deprimir o preço dos imóveis para comprar em baixa. Sem comentários.
Então fiquei pensando o que eu faria se precisasse resolver o problema da região. Sobre as drogas, eu confesso que não sei. Chamaria o Fernando Henrique pois ele andou conversando com muita gente, e perguntaria o que fazer. Agora, sobre uma área devastada da cidade, aí eu tenho meu palpite, e como estamos em greve de twitter vou escrever abaixo.
Eu investiria uma boa grana em serviços públicos. Mas de verdade, com o setor privado. Assinaria um belo cheque para o Bandeirantes construir uma filial na área, apenas para residentes. Outro cheque para a Escola da Vila fazer uma escola na área, mesmo esquema, apenas residentes. E, para quem não agüentasse o tranco do Bandeirantes, outro cheque para o, ai, di Genio fazer um Bija. Ou não. É, vamos rezar para o pessoal agüentar o Bandi.
Quanto é que isso sairia? Uma fortuna. Por 15 anos, tudo de-gra-ça. Basta morar na região. E outro cheque ainda para o Einstein fazer um belo posto avançado. Isso atrairia moradores, não é preciso ser um gênio para saber. Gente que veria no projeto uma oportunidade para os filhos. Então além disso outro belo cheque iria diretamente para as famílias que comprassem apartamentos na região, o que atrairia investidores.
Em cinco anos, talvez menos, o bairro seria outro. A população do local teria uma nova chance, as novas famílias trariam um novo gás para a região, atraindo pequenos negócios, além dos investimentos imobiliários. Parte seria apropriada pela classe média? Talvez, mas o grosso dos recursos iria para a classe trabalhadora, que estaria disposta a assumir o ônus inicial de morar na região.
E depois disso, mais 10 anos de consolidação. Aí acabam os recursos para essas entidades privadas, e elas tem que se financiar, com matrículas ou com doações ou simplesmente deixar o equipamento com o setor público. Um outro bairro é escolhido, no mesmo esquema: investimentos massivos, consolidação, saída.
Parece caro, mas será que na ponta do lápis é tão caro assim? E o benefício não parece ao leitor rápido? Pois o esforço é feito mesmo pelas famílias que se apropriariam de um bairro abandonado. E por que não um posto de saúde público, uma escola pública e um colégio público? Porque não atraem, corretamente, ninguém.
E como é que ninguém pensou nisso antes? Acho que a idéia de ter um Bandeirantes disponível para os adolescentes do centro, um Einstein, uma Escola da Vila, é algo repulsivo para muita gente que arrota justiça social e mora na Vila Olímpia.
Para ocupação, um caminho são esses serviços diferenciados. Teria sido uma boa localização para a Usp Leste. Outro talvez mais econômico seria serviços mais populares. Faculdade particular por exemplo.
Outro é o caminho mais de mercado. Isenção de imposto predial na região, para puxar os “especuladores” para lá. Se não for suficiente, é porque o imposto sobre a propriedade está muito baixo, insuficiente para cobrir os custos sociais da construção.
Para as drogas, monopólio estatal. Não tem outro jeito, e esse é líquido e certo. Lembra como na época do monopólio estatal ninguém tinha telefone?
A USP Leste teria sido muito legal lá. A Unifesp também. Acho que para a pessoa se mudar pra lá não bastaria uma Unip. Não atrai o suficiente.