Fui no sábado na reunião dos editores da Wikipédia, no CCVergueiro. Um grupo muito comprometido com o sucesso da Wikipédia em Português, um grupo bacana, acolhedor, de profissões variadas. Estava lá também o Barry, da Wikimedia Foundation, um tipo de globetrotter que vai ajudando as Wikipedias iniciantes a se desenvolverem. “Qual Wkipedia você comprara com a do Brasil?”, eu perguntei. “A da Polônia?” Falei brincando, pensando nas polonetas do regime militar, no Rei da Polônia do Ubu Rei, enfim, you got it. Ele se animou: “Isso, a da Polônia!” Disse que muitos editores brasileiros provavelmente usam mais a versão inglesa, e ele mencionou que na Índia isso é muito forte. Legal essas comparações internacionais, dá muito o que pensar.
Achei, a partir desse encontro, que o grupo tem um relação ambígua com a universidade, com o conhecimento adquirido formalmente, digamos. Por um lado, tem algo libertário, como disse o próprio Barry. A Wikipedia em inglês começou assim, meio contra-cultura, agora é mais mainstream. Mas como toda reação, já dizia o velho Freud, traz dentro de si seu oposto, vi no grupo, nesse encontro, alguns elementos conhecidos de quem passa a vida na educação formal. Aquela doença endêmica no Brasil, já conhecida antes dos portugueses chegarem à América, por exemplo, a pinimba cavejá. Estava lá, inesperada. E uma certa convicção a respeito do que deve ser o conhecimento, como obtê-lo e apresentá-lo, algo tão familiar para nós, lá também.
Leitores alunos em busca de temas: muita coisa a ser estudada na Wikipedia. Será que os artigos convergem? Por exemplo, se você estudar o artigo sobre a descoberta do Brasil, será que as sucessivas edições levam em conta dados das Wikipedias em outras línguas? Será que a forma de contar as várias independências, tão particulares para cada país, mais heróica, sofredora, cômica, sagaz, etc., acabam se interpenetrando na Wikipedia nas respectivas línguas?
De muito interessante: o grupo está envolvido não apenas com a Wikipedia mas também com questões ligadas a software livre e informação aberta. Para o Brasil isso é fundamental (a informação aberta) pois num país desse porte, com o Estado sendo tradicionalmente visto como inimigo, é importante termos informações sobre como nosso dinheiro é gasto e como o aparato estatal é administrado. Eles têm vários projetos em andamento, muito bacana mesmo.
Sobre a Wikipédia em português: seria legal ter mais editores. Caso você use a Wikipedia em inglês, faça um esforço para melhorar a em português, peça aos alunos para fazerem o mesmo. Nesse próximo semestre, vou provavelmente incluir uma tarefa na Wikipedia em português no curso. Na verdade, confesso, estou um pouco hesitante. Tenho receio que os alunos sejam muito corrigidos pelos editores e acabem desanimando do esforço de construção coletiva do conhecimento. Ou que as hiper-correções acabem prejudicando o meu trabalho de orientação. Pois é engraçado como na luta contra a super-hierarquias do conhecimento no Brasil, a gente acabe sempre criando novas hierarquias…