São Paulo em janeiro é cruzar os Andes sem sair do lugar. A cidade é outra. Os motoristas de táxi viram guias turísticos, os motoristas param na faixa, a metrópole fica íntima, como se “só a gente” tivesse ficado aqui. Os moradores de rua expulsos do centro perambulam sem incomodar ninguém. Então dá vontade de fazer boas ações.
Ontem fui doar sangue no Einstein, normal, faço isso todo ano. Te tratam super bem, tem cafezinho na saída, estacionamento pago, é uma doação de luxo. Aí me animei e hoje fui me cadastrar para doar a medula. Aqui na cidade de S. Paulo só tem o cadastramento na Santa Casa; no interior tem o mesmo serviço em vários lugares, inclusive Marília!
É muito rápido, muito fácil. Se eu fiquei lá, no total, 10 minutos, foi muito. Não é o luxo do Einstein, mas em compensação a agulha é bem menor. Eu realmente recomendo. Aí fui na Liberdade me dar um sushi. Adoro o Tanabe, mas queria ir na Liberdade há um tempão. No restaurante me deu uma certa euforia. Das férias? Da expectativa do sushi? Ou da possibilidade de doar a medula?
Provavelmente, de ter um pepel significativo no tratamento de um outro ser humano. Saí de lá e enchi a sacola com produtos natura e comidinhas japonesas. Encontrei um aluno. E pensei: e se me chamam, como é que fica? Me pareceu muito. O risco de morrer é pequeno; você tem que ter muito azar e ser atendida por péssimos médicos. O risco de levar um raio na cabeça deve ser parecido.
Agora, e o risco de de fato ajudar a pessoa? Esse é alto. E aí é que dá medo. Não fiz medicina por isso. Eu, com todos os meus defeitos, ir lá e salvar uma vida? Não aguentaria o peso. Ir lá e realmente ajudar alguém? Cada um com seus limites.
Ser professor é um bom meio-termo. No geral, você ajuda todo mundo. A ter uma certa disciplina, a ler uns textos, a escrever uns outros, a pensar por si, a conhecer melhor os colegas, enfim, nada muito grave. Além disso, os alunos já passaram pelo vestibular, então você não está tirando ninguém da sarjeta pra começar a história.
Quando você realmente ajuda alguém, digamos uns 5% da turma, é com algo muito específico. Um apoio numa hora crítica, um voto de confiança. Um modo de pensar que outros professores não tinham apresentado. Uma avaliação do trabalho do aluno que destaque uma habilidade não-reconhecida. Não passa disso.
E isso está no meu nível de doação. Mais, eu não poderia. Mas, como o moço do Einstein disse, quando me contava que tem gente que sai frustrada porque descobre que não pode doar plaquetas, o nome mesmo já diz: é doação. Não é sacrifício, não é algo que está além do que podemos. É doação.
Então, se você está de bobeira, passando pelo centro, e for compatível com seu nível de bondade, por que não? Dê uma passada na Santa Casa de Misericórdia…
Einstein – Doação de luxo, foi a melhor definição que ouvi! Também sou doadora e trata-se de ato de amor, independente do luxo !
Parabéns, gostei da leitura!