Comecei o dia hoje ouvindo Peter Frampton, super adequado. Pois ontem lembrei bastante do Vitão. Como é que aquelas viagens com a natação davam certo? Como é que minha mãe deixava ir para Maresias com o Vitão e o Nenê? Corremos até Barra do Una, pois mesmo em viagem tinha que ter treino. Voltamos rebocados na picape do Nenê. Também lembrei do pais dos atletas. Os que participavam, os que se metiam, os que não sabiam do que se tratava. Minha mãe gostava da molecada em casa.
Teve o dia da língua, quando o Gé e a Rê vieram almoçar entre as provas e tinha língua e eles não comeram. Até hoje quando convido para jantar eles perguntam: mas vai ter língua? Teve o dia do estrogonofe, um jantar de Natal com toda a equipe. Mesmo tendo feito quilos de comida, a coisa foi acabando pois nadador adolescente é tipo gafanhoto. Então ela escondou um pouquinho para quando o Vitão e o Nenê chegassem, completamente surpresa: “eu, ter feito pouca comida?”
Depois trocamos presentes ao lado da árvore de Natal, que eu ainda guardava da época da Maria Luísa.
Para o meu pai aquilo tudo era o fim da picada, imagino. Natação? E ter que me pegar na Hebraica à noite, ficar esperando na porta pois o treino atrasava? Meu pai era um santo e eu não sabia. E, além disso, para nada, pois era só ficar andando de um lado para o outro da piscina, imagino que ele pensava. Não estava fazendo ou aprendendo nada. Só me lembro do seu mau-humor quando eu chegava, de cabelos pingando.
Me pegar na Cultura Inglesa era bacana, ele curtia, voltávamos conversando, por isso penso que o problema era a Natação. Apenas um dia ele, digamos, se envolveu. Saindo pela Hungria, me despedi do Vitão com um beijo no rosto. Meu pai veio tomar satisfações. Quem é ele? Não é o técnico? E vocês se beijam, o que é isso? Eu disse: “Pai, você está com ciúmes do Vitão.” E era um ciúmes devido, pois como disse, tínhamos um certo carinho um pelo outro.
E teve também um fim-de-semana em Ubatuba, Debbie, Lara, minha mãe, Eliana e eu. A Lara e a Eliana eu tenho certeza, a quarta me falha a memória. Divertidíssimo. Minha mãe curtia a garotada, aprender palavrões novos com a Renata, essas coisas. Ah, e teve o dia em que ela foi me pegar na Água Branca e foi cumprimentar o Gerson: “Tudo bem, …?” Aí deu um branco e ela não lembrou no nome dele. E o Gerson respondeu: “Tudo Gerson!” E rimos até hoje.
Enfim, ontem trabalhei, organizei um artigo sobre “a civilização judaica” que estou escrevendo, apoiado em três loci: a Flip, as Macabíadas, e o centro de estudos judaicos da USP. Uma sociologia livre, um ensaio, vamos ver como fica. Imbricamentos da cultura judaica, Brasil, globalização, história, essas coisas. Como trabalhar descansa! Também montei meu novo curso de sociologia da cultura, só preciso falar com alguém pra ver se está legal. Vai ser como o curso de artes do ano passado, mas centrado na escrita, na “recomposição” da vida social. Estou montando cursos cada vez mais leves em bibliografia, mais focados no produto final. Menos curso e mais workshop.
Depois fui curtir a minha cidade, andar no Ibirapuera descomprimido, as pessoas dizendo por favor, obrigada, essas normas do convívio entre estranhos. Um silêncio de Deus, uma paz. Na internet vi que são milhões de carros fora da cidade. Que aproveitem bastante, pois a cidade ela mesma merece um descanso, os passarinhos precisam colocar a conversa em dia…
Das Macabíadas, eu tirei o dia de folga. Como quando era adolescente, de repente eu sumia. Uma vez no Parque Nacional de Itatiaia, fomos o pessoal da FEA passar a Páscoa. Estava a Karla, que reecontrei do Bandeirantes, o Antônio Paulo, o Rafael, aquele cara do PT que era super radical e foi trabalhar na bolsa, Sergião!, enfim, nós. Divertidíssimo, se perder na floresta à noite, varrer o chalé empoeirado, aventura. Mas um dia fui caminhar sozinha, fico confusa com muita gente em volta muito tempo. Até hoje, quando a semana de trabalho é muito dura, uma hora simplesmente paro e choro, não de dor, mas de vozes.