O artigo é esse aqui. Outro dia no Haaretz vi um comentário legal: “De onde o Haaretz tira esses ensandecidos?” Em São Paulo tanta gente interessante, articulada, quem é que escolhe os articulistas? Ontem mesmo vi o Fasano, dos restaurantes chiques, na TV, o cara é tão sensato, culto, viajado, por que não o chamam para publicar suas opiniões sobre urbanismo, cultura e sociedade? Não estou sendo irônica, acho que seria uma boa leitura mesmo. Mas não.
Mesmo com o artigo sendo ruim, me sinto na obrigação de escrever algo pois o tema, discriminação, é importante. O autor se coloca como um herói do politicamente incorreto, mas não é coragem; é cara-de-pau com suas ofensas à lógica, mais que aos gays e a outras minorias citadas. Acho que a liberdade de expressão é um valor muito importante, e concordo que as minorias devem ter um certo estômago de avestruz, caso contrário viveríamos numa sociedade insuportavelmente chata, reprimida e vazia.
Isso não quer dizer tolerar ofensas, discriminação e violência. E, voltando ao artigo, achar bonita essa absoluta falta de lógica comprimida em algumas colunas. O artigo diz que hoje ser gay não é uma doença mental. De fato, no Brasil e em vários outros países ser gay não é crime nem visto como doença; na Inglaterra de Wilde, que é o pilar do argumento do autor, era crime.
Depois o artigo ainda fala que Wilde não foi pra cadeia por ser gay. Foi sim. Vê na Wikipedia, caramba. Ser gay deixou de ser crime por várias razões, e uma delas foi que teve gente como Wilde que não aceitou ofensas, se indispôs com a lei, criou um conflito, esse conflito tomou dimensões públicas, e isso provocou uma mudança nas leis e valores da sociedade. A história de Stonewall é mais ou menos essa, me corrijam os especialistas.
Em suma: o artigo sustenta que Wilde foi pra cadeia porque criou confusão, já que hoje ninguém vai pra cadeia por ser gay. Isso pode ser ofensivo para os gays – e outras minorias cuja história de inclusão é bem parecida-, mas também dá nos nervos do leitor a profunda, completa falta de lógica do argumento.
E, sobre as preferências pessoais, também mil problemas conceituais. Claro, na sua casa você fala o que quiser e convida quem bem entender. Não existe em sociedades democráticas crime de consciência. Racismo, homofobia e anti-semitismo são outras coisas, completamente diferentes. Um homem pode achar as mulheres umas fúteis. Problema dele. O que ele não pode é bater em mulher, pagar menos um funcionário por ser mulher, ou infernizar a vida de uma pessoa com ofensas machistas.
Agora, infernizar o leitor com bobagem, isso ele pode fazer. Se li esse artigo foi meu desejo, poderia não ter lido. Só não entendo por que não chamam o Fasano, achei tão sensato…