Ética na Pesquisa

Vou rapidamente meter a colher no debate atual sobre ética na pesquisa…

Até agora, nos meus cursos, sugeri o bom senso: a aplicação de preceitos éticos gerais à pesquisa. Pedir autorização, respeitar o direito do entrevistado de ser citado como ele permitir apenas, redobrar todos os cuidados quando se trabalha com crianças e adolescentes, envolvendo pais ou responsáveis, explicar de modo claro para que se quer a entrevista e onde o texto aparecerá, etc., etc.

Fundamentalmente, ouvi-lo e colocar no papel o que a pessoa disse, interpretando porém não distorcendo, ou seja, sendo ético com ele e com o leitor também. Nas ciências humanas, esse é um grande risco que nos espreita: usar má-fé na interpretação. Quem distorce, para mim, usando as palavras da minha avó, “não tem respeito para consigo próprio”. Quando leio trabalhos que ironizam os entrevistados, sinto repulsa. Se nós das ciências humanas prezamos tanto “o significado”, “a interpretação”, “as leituras”, devemos mostrar isso em nossos trabalhos… Digamos, se “o sangue” que coletamos são palavras, devemos tratar esse sangue com dignidade.

Enfim, sobre o debate atual, que não é sobre os rigores da interpretação. É sobre as exigências na regulamentação da pesquisa. O Brasil, queiram ou não, está se americanizando. Todos querem agora, como se diz nos EUA, “cover his ass”. Por um lado isso é bom, pois há mais cautela com a pesquisa. Por outro lado, a papelada aumenta, muitas vezes sem ganho nas relações humanas e na pesquisa. Enfim. Aqui vai uma crítica ao modo como a regulação está se dando e aqui vai a portaria original que seguimos hoje.

Quer ler a portaria vai ver um texto detalhado, muito claro, muito bem escrito, e muito bom. Seguir aqueles preceitos não faz mal; o que pode fazer mal é usar a papelada para esconder a falta de pesquisa ou ética, como acontece com qualquer lei. Quem ler as críticas – eu li essa – vai ver argumentos e discussões fascinantes, que colocam as questões da ciências humanas em destaque. Propõe que se atente a necessidades específicas da pesquisa em ciências sociais, relacionadas à essa busca de significado. Textos bons mesmo.

O debate (e o próprio afã regulador) está acalorado. Ele vale a pena? Sinceramente, não sei.

Tenho a impressão de que colocar a questão com ciências biológicas versus ciências humanas não ajuda muito, pois na verdade o texto da portaria é realmente bom, mesmo que faltem algumas adaptações sugeridas nas críticas. Talvez até essa oposição entre as corporações sirva para obscurecer o debate… Se o pessoal das humanas insistir na diferença, não vamos deslegitimar as nossas questões? e legitimar as práticas paperproducionistas das outras áreas?

Eu ainda sou pelo bom senso. Por exemplo, uma autorização verbal dada para alguém que explicou de que se trata a pesquisa para mim vale; uma assinatura num texto incompreensível e repleto de erros gramaticais para mim não vale. Mas concedo que numa sociedade complexa é preciso regular as coisas, sem fazer dessa regulação um fim em si mesmo.

Talvez o debate valha a pena pelo seu conteúdo mais profundo, a relação entre o homem e a pesquisa. Realmente não sei, mas quis dizer a vocês como andam as coisas nessa área…

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