Ao menos hoje pela manhã, isso foi verdade. Alguns alunos impediram professores e estudantes de entrar no campus. São alunos nossos, conheço alguns pelo nome, gosto deles. Me criticam em aula, fora, mas gosto deles, que vou fazer? A aluna que está no grupo de arte, o sociológo que escreve tão bem que me emociona, o filósofo que me escuta atenta em aula, gosto. Mas o clima não estava bom.
Ainda estou tensa por conta de tudo, mas vou lançar algumas idéias e depois formalizo. Em primeiro lugar, estou achando muito ruim a cobertura da imprensa, e pior ainda os comentários indignados na televisão e twitter. Se a universidade é importante, vão lá e cubram direito! Ficar só no mapeamento genético da catapora e na invasão da reitoria não é cobrir.
Achar que alguns poucos alunos invadem a reitoria da USP ou o campus de Marília e a culpa é só deles, convenhamos! Os manifestantes de 68 eram fofinhos e esses são malvados e bobos: isso é análise?
Sobre as ocupações: Onde estavam as milhões de horas de reunião, os bilhões de comitês, os trilhões de assinaturas quando esses alunos ocuparam os prédios que de repente todo mundo lembra que são públicos? A universidade pública já estava desocupada há um tempo. Aparentemente tomada por essa burocracia infernal que não faz sentido, que aliena todos de nossa vida acadêmica.
A Folha lançou um artigo esses dias sobre evasão universitária. Não li, desculpa, mas dou os parabéns pelo tema! E quem lê qualquer cientista político sabe, e quem não lê também sabe pois é óbvio, que as coisas desocupadas são tomadas. “Vácuo de poder”, “abandono da esfera pública”, seja lá que nome tenha, essas coisas não passam impunes.
Esses jovens, alguns dos quais metem medo, outros dão pena, eles só estão ocupando algo que está desocupado. Se na porta da Unesp hoje estivesse o corpo docente dizendo: “Vamos entrar e como professores e alunos conversar”, nós teríamos entrado. A secretária me disse: se conseguir entrar, vote na eleição do conselho de… Mas para que esse, ou outro conselho, se eles não estão presentes? Se não tem existência real?
Pronto, falei. Agora o lado mais humano: consegui dar aula. Trocar idéias. Por algumas horas esquecer essa coisa toda. Falei. Ouvi. Aprendi. Orientei. Fiz meu trabalho, e quem acompanha o blog já sabe que dou aula embaixo de árvore, em saleta de professor, onde der. É ridículo que você pague 10% do seu ICMS para eu dar aula ao ar livre, mas é assim. Pelo menos dei aula, acho que fecho o semestre, que foi bom, teve surpresas excelentes que conto depois, direito.
E agora a nota pessoal. Depois da minha aula extra-campus – aliás, se eles tivessem proposto que os professores dessem suas aulas espalhados pela cidade em protesto contra a desocupação armada na USP provavelmente eu teria aderido – depois da minha aula fui pegar meu computador na minha sala. Disse que ia entrar, fui entrando e disse para um aluno: e você vai comigo. Ele foi, caminhamos e ele peguntou se estava tudo bem e eu disse que estava e perguntei dele.
Trocamos poucas palavras. Peguei minhas coisas. Ele, muito fino, me esperou. Na volta me toquei da situação. Eu precisava ser escoltada. No meu lugar de trabalho. Na minha sala. Me senti humilhada. Ele percebeu? É um desses meninos brilhantes, algo terá percebido. Que a situação era insólita. Que algo muito errado e desrespeitoso aconteceu. Voltamos em silêncio. Eu perdi a Unesp.