Título ambicioso, não? Pois é, não vou dar conta. Mas vou lançar algumas idéias. Acho que a imprensa está comendo barriga, cobrindo as intriguinhas do reitor e diretor da São Francisco e também dando destaque para a enésima ocupação da reitoria da USP. Tão comendo barriga sim. Como quando vão na favela só pra noticiar chacina.
Claro que fatos dramáticos merecem atenção. Mas cobrir só isso é ser superficial. Claro que a própria universidade deveria se examinar, ela mesma, produzir estudos. Mas é difícil. Há barreiras enormes, então faço aqui menos uma crítica que um apelo: cubram a universidade direito, please.
As barreiras são, obviamente, corporativistas. Mas não apenas. São nossas viseiras ideológicas que nos impedem de ver certas coisas, e digo nossa incluindo não apenas os que andam publicamente com viseiras, com seu marxismo pré-colombiano na pasta. Digo nós mesmo, todos nós.
Esses estudantes ocupando a reitoria, por exemplo, quem são? Se a polícia vai entrar ou não, se eles vão sair ou não, não é isso que estou discutindo. Mas estou perguntando quem são. Quem é que hoje, com essas tremendas oportunidades no Brasil, jovens admitidos em uma das 200 melhores universidades do planeta, está tão frustrado assim, que não consegue elaborar propostas, fazer coisas produtivas, para si e para a sociedade?
Por definição, eles são quem a universidade admitiu na instituição e quem a universidade formou. Não dá pra entrar nessa de “nós” da Poli e da Fea não fazemos greve, e são “eles lá” os baderneiros, pois não é assim que as instituições funcionam. Estamos junto nesse barco, e se a USP não é uma das 30 melhores universidades do mundo é responsabilidade de todos nós. Pois o Brasil está no G20 e a USP está no G200? E a Fátima Bernardes comemora?
Você entra na USP mas você não entra num vestibular concorrido. Então você é “elite” ou não é? Tem todos esses mil colegiados com participação docente, discente e o escambau, mas você não tem voz alguma nas decisões da instituição. Ninguém tem, paradoxalmente; não falo apenas dos alunos da FFLCH. Os prédios pululam nos campi e você queria ter dado um palpite mas quando vê o prédio está lá.
Sobre as contratações docentes, acho que já postei no blog minhas sugestões, acho que devem ser concursos públicos. Só isso. Façam concursos públicos para a contratação de docentes, que tal? Onde os alunos possam ao menos acompanhar o processo de tomada dessa decisão que é a mais importante da instituição.
Os alunos de cursos mais concorridos resolvem esse descompasso entre o prestígio da USP (e de outras boas universidades brasileiras) e a realidade investindo na própria carreira. Ótimo. Os alunos e cursos menos concorridos ficam frustrados mesmo, sentem-se enganados e acabam expressando essa frustração, que é de todos, com essas ocupações.
Além disso, claro que há os discursos que usam essa frustração para levá-los para cá ou para lá. É terrível que gente com a vida feita use os jovens para tais fins, mas isso sempre aconteceu na história humana e sempre acontecerá. O tal conflito de gerações, não o romântico dos anos 60, o conflito mesmo, pai patrão e etc. Claro que é preciso definir responsabilidades, mas a questão é a seguinte: de onde vem essa frustração?
Eu sei, tu sabes e ele sabe. Mas precisa alguém dizer essas coisas e aí vai, voltando à imprensa, meu apelo: cubram nossas universidades.
Aluno da Poli faz greve sim. Greve de estudo. Quando a coisa não interessa, passa colando, e gasta o tempo com outra atividade mais produtiva.
Porque tem tanta coisa que não interessa? Porque a universidade só olha para seu próprio umbigo.
Porque não é greve no estilo metalúrgico? Porque o cara tem oportunidade de emprego. Mas não deixa de ser uma greve, não fazer aquilo que a sociedade paga para estudante fazer, e sair por aí caçando estágio.