Ontem fiquei tocada com a decisão do primeiro ministro palestino, Salam Fayyad, de apoiar a candidatura de Stanley Fischer para dirigir o FMI. Em geral ficamos tocados quando vemos crianças judias e muçulmanas jogando basquete. Futebol, então, nos enche os olhos de lágrimas. É natural: é o futuro, esperança. Mas as crianças crescem e vão tocando a vida, e não sabemos mais no que deu aquele jogo de bola.
No caso dos dois, não. São homens já tarimbados, sabem o que fazem, tem um passado atrás. Pode haver cálculo na decisão, mas não ingenuidade. Então me tocou mais.
Background: Fischer é o economista, do livro de economia Blanchard e Fischer, do MIT. Fischer nasceu na África mas fez a carreira nos Estados Unidos. Fala hebraico mas só obteve a cidadania israelense quando foi convidado para presidir o Banco Central de Israel, onde, há um certo consenso, fez um bom trabalho, navegando nas intrigas políticas isralenses. O fato de Israel caçar um central banker no mercado mundial já é interessantíssimo, quem é que faria uma coisa dessas?
Quem provavelmente mais tem contato com Fischer é um tal de Jihad al-Wazir, autoridade monetária palestina. Lá ainda não há uma moeda ou banco central, mas al-Wazir é quem regula os bancos e operações financeiras. Trabalha com Fischer em questões várias, pois as duas economias estão ligadas, há comércio, mesmo com Gaza, e além disso uma das moedas em circulação na Palestina é o próprio shekel. Al-Wazir é filho do terrorista palestino Abu Jidah, morto pelos israelenses em 88.
Talvez os palestinos saibam que Fischer não tem chance e portanto a indicação não significa muito. Talvez eles queiram que o gesto desarme os israelenses reticentes quanto a setembro, e a indicação esteja dizendo: “Vocês têm medo de serem isolados internacionalmente, mas olha quem está do lado de vocês.” Não sei. Talvez Fischer, de certa forma um outsider na política do Oriente Médio, não traga para si a memória das guerras e humilhações que um israelense mesmo traria.
Mas, de qualquer forma, me tocou. Pois acho que há algo muito humano nesse gesto, um gesto de amizade. Entre dois homens que de algum jeito falam a mesma língua, dos negócios, das transações financeiras, dos elos impessoais e tão pessoais que nos ligam a todos que compramos, vendemos e emprestamos. Quero esse cara lá no FMI, esse judeu banqueiro sionista, os palestinos disseram. Como não se tocar com isso?
Acho que pela primeira vez senti uma esperança mais concreta para setembro. Ainda mais com o Roberto Carlos em Jerusalém, tudo pode acontecer.
Também gostei, mas o FMI não ficou tocado. Eliminou o Fischer por 2 anos de idade, 2 dias de atraso, ou por excesso de competência: http://nyti.ms/ijeX7Y
Muitos cargos públicos tem limite de idade, formal ou informal, entre 35 e 65 anos. Deve uma espécie de reserva de mercado dos poderosos para os poderosos, que tem medo que o eleitor só escolha crianças ou idosos. A julgar pelo fato que esse protecionismo é necessário, banir qualquer homem entre 35 e 65 anos dos cargos mais importantes talvez fosse correto.
Eliminarem e nem disseram por quê, que coisa feia. Acho que seria constrangedor justificar a eliminação do cara mais preparado para o cargo.