Eu realmente adorei o último filme do Arnaldo Jabor, “Suprema Felicidade”. Faz tempo que vi, mas uma entrevista dele numa revista antiga no ginecologista me fez lembrar do filme. Na entrevista, outras maravilhas do cineasta. A repórter pergunta como ele anda, com as críticas ao filme, e ele citando alguém, diz: “Depressão é melhor que ansiedade, pois pelo menos a gente descansa.” Adorei. Não é verdade? Pelo menos a gente descansa. E também cita o Mário Henrique Simonsen, outra ótima: “O Brasil é um país sob anestesia, mas sem a cirurgia.” Não é perfeito? Não sei exatamente o que significa, mas é perfeito. Esse é o Jabor, inteligente, sagaz. Na entrevista ele também desce a lenha na Dilma e idealiza o Palocci, mas tudo bem, a revista é antiga e mesmo ele a essas alturas já deve ter se entregado ao charme burocrático da presidenta, e vomitado diante das notícias sobre o nosso ministro.
Enfim, eu realmente gostei do filme. Meu irmão não quis ir comigo, “ver filme que criança vai em puteiro”, e de fato cineasta brasileiro sempre coloca criança em puteiro, é o nosso “car chase” obrigatório. Onde é que vai ter a criança no puteiro?, o diretor e o roteirista deliberam. Mas mesmo a cena da criança em puteiro é tão absurda que fica boa. Vai além do cliché, como o car chase de um filme que vi há pouco, um filme europeu dos anos 70, qualquer hora recupero qual.
Gostei da busca do garoto pela mulher absurda, me fez entender mais os homens. Gostei do avô, da avó, gostei do jovem me explicando afinal o que foi aquela geração dos anos 60, querendo ser algo diferente dos pais. O mesmo drama dos jovens americanos, o mesmo drama provavelmente dos jovens europeus, um drama distinto e incompreensível para nós, que “como é que eu vou crescer sem ter com que me rebelar?”
Outro dia um europeu me contou sobre o conflito de seu irmão mais velho com seus pais, as acusações, a guerra. Ai, nem imagino o que seja chegar em casa e ver um sujeito que é seu pai e que pode além disso ter sido sei lá o quê. Um caso dramático. Mas mesmo aqui deste lado do Atlântico houve o tal conflito de gerações, que o filme realmente explica. “Eu não sei o que eu quero, mas não quero ser como os meus pais”, acho que o alter-ego do Jabor diz a certo instante.
Enfim, logo quando o filme passou a Marlene me disse: “Puxa, se você gostou, fala isso pro Jabor que ele vai ficar contente!” Como se eu conhecesse o Jabor ou os críticos que desceram a lenha nele/no filme. Na verdade, nem sei quais foram as críticas nem quero saber. Pois o filme é bom.
Jabor, o filme não é dos que a gente acha bacana e vai comer uma pizza. É dos que nos tocam, ficam conosco. Não como um Bergman, nos torturando. Ficam como uma lembrança de infância, cheiro de algodão doce. Uma lembrança de infância dos outros. Valeu.
Ah, então tinha cena do moleque indo no puteiro? Depois de ver o filme, você só disse que gostou, mas só agora confirmou minha previsão de roteiro. Vá ao teatro, mas não me leve. Disco é redondo. (Adicione seu chavão preferido aqui.)