Nota curta sobre bullying: está na moda dizer que a culpa de tudo é bullying. Mas esse é um fenômeno bem específico. Se uma escola não ensina nada, os professores têm medo dos alunos, e os alunos mais fracos apanham na saída, isso não é bullying. Isso é um lixo de escola. Como melhorá-la? Desafio enorme, a cidade de Nova York está tentando e há dúvidas se está conseguindo. O pessoal do Instituto Fernand Braudel tem trabalhos sobre isso, não é fácil. Mas o problema não é bullying, é a instituição como um todo.
Se um esquizofrênico não desenvolve laços afetivos com os colegas, se dá mal na vida, e uns anos depois planeja um crime horrendo, também não é bullying. É uma doença cruel que talvez, se tratada, poderia ter sido controlada. Mas as pessoas que conviveram com ele, e que talvez de fato o tivessem evitado, não tem culpa alguma. Aliás, talvez nem tivessem podido ajudar, pois doenças mentais graves são distintas de curtas melancolias que um telefone carinhoso afasta.
O bullying também não está ligado à cultura local. Nos Estados Unidos têm, aqui também tem. Talvez os alvos sejam um pouco distintos, mas o fenômeno da exclusão pelos pares é algo geral, entre adultos e crianças. Tem gente que é excluído, infelizmente, por uma razão ou outra. A exclusão escolar pode transformar uma pessoa sadia em uma pessoal deprimida, mas não num doente assassino. E ela tem que ser algo muito longo e penoso para deixar marcas na personalidade. Caso contrário, vira apenas um momento de vida mais chato, como temos todos e as crianças também.
Agora, por que cargas d’água, com tantos problemas nas escolas, o bullying virou moda, eu realmente não sei. A escola tem que ensinar. Está ensinando? Mal e porcamente. É possível melhorar isso? É. Sempre haverá os mais sociáveis e os menos. A gente que têm mais que 30 sabe que os menos sociáveis são os que acabam ganhando mais dinheiro, ou ao menos mais dinheiro honesto, que os populares. Não é?
Pensar no bullying só faz sentido em casos dolorosos, onde a criança atingida não está conseguindo lidar com o problema e aí se faz necessário intervir na sociabilidade das próprias crianças, dizer que isso é errado e que não vaiser admitido. Mas isso não vai melhorar o nível da escola como um todo e muito menos diminuir a violência, pois são coisas separadas.
Houve uma discussão interessante nos EUA sobre o rapaz que atirou na deputada do Arizona. Pois havia tanto medo que o rapaz cometesse um ato insano que ele foi expulso da faculdade – ele só poderia continuar os estudos se se mantivesse em tratamento psiquiátrico. Mas talvez essa expulsão tenha sido o estopim para o seu crime, que tirou a vida de muitos, inclusive de uma criança.
A discussão foi interessante pois esse é um dilema real. Defendo a minha comunidade, exigindo que o doente se trate, ou abraço a minha responsabilidade total perante a comunidade? Não sei a resposta. Mas sei que não é fácil. E não é bullying.