Yerushalaim, dia 13

Hoje fui para a Hebrew de novo. Continuo me perdendo no prédio labiríntico que eles fizeram, com colméias que te fazem perder a direção. Mas tudo bem, pois vale a pena. Cada conversa, um mundo. Um português dirige a seção de América Latina e Ibéria do relações da univesidade com o exterior, que são muitas. Ia receber o reitor da Puc do Rio, entre outros. Me mostrou um video, FHC recebendo uma título honorífico, preciso checar o quê, aqui são notas de viagem apenas. Celso Laffer, contatos com universidades em S. Paulo. É bom conversar em português. Me falou das conquistas tecnológicas da universidade, das pesquisas sobre o cérebro, dos tomates cereja. E depois dessa conversa maravilhosa uma outra melhor. Assim que é. Um professor argentino, falando de suas pesquisas sobre diáspora, sobre comunidades judaicas na América Latina, me dando livros, me perguntando o que faço. Me lembrou assim vagamente o meu pai, nada em particular, apenas aquele interesse intenso no que o outro diz e aquela vontade, também intensa, automática, natural, de falar. Falei que não há memória sobre Vargas no Brasil. E aí ele falou da herança peronista, e do nazismo também.

Mas o fundamental é que me deu uma aula, assim do nada, sobre identidade israelense. A falta de fronteiras. Fronteiras que te separam do outro e te unem ao outro também. A disparidade entre a alta tecnologia e um país do Oriente Médio. Quando ensino sobre o Brasil os alunos não entendem do que estou falando, ele disse. Enfim, me explicou Israel de um ponto de vista latino-americano. Onde em primeiro lugar tudo é avacalhado, e em segundo lugar tudo o hoje. Aqui você sente a história, sente o tempo. Não sei se gosto disso, gosto do agora, dos passados só lembrados pelos indivíduos, dos presentes vividos juntos. Mas aqui há passado. Ah, ele disse, e lembre-se do sagrado também, pois aqui sem levar isso em conta você não só não vai entender como vai ver tudo distorcido. Isso não sei. Não vi o sagrado.

Passei pela cidade velha, sem muito entusiasmo. Tirei fotos dos militares que fazem a segurança do local, pedi para tirar duas vezes e nas duas o subordinado hesitou e o comandante, em um dos casos um druso, liberou. Quando digo liberou, veja, são meninos, pediu pin do Brasil, sorriu pra foto, e até conversaram entre eles se iam pedir meu telefone ou não. Estão lá para desaconselhar às pessoas que se explodam, só isso. Não faziam nada em especial, só olhavam quem entrava e saia. Os dois que conversei orgulhosos do trabalho, um outro com cara de enfado. E depois aquele mercado, e aquele muro, e aqueles religiosos, e aqueles árabes ressentidos com sua condição indefinida, e mais religiosos, e soldados visitando o muro, o que não havia em 87, e tanta criança que dá nos nervos, e turistas tirando fotos de gente esquisita, e presentes para comprar, enfim, eu não estava lá.

Vi a cidade da época do Herodes, que acho que já tinha visto em 87. Valeu ter voltado. Há uma casa que eu gostaria de ter visto, já estava fechando, da mesma época. Mosaicos, utensílios, a vida nos primeiros séculos a.C. Queria ter comprado mais daqueles vasinhos de vidro, parecidos com os antigos, se der eu volto e compro. Digamos assim que a cidade velha como museu é muito interessante, mas atrai gente bem esquisita. Também queria ir até a escavação ali do lado, coisa nova, Rei Davi, mas pela política teria que ter planejado, então não deu. Enfim, como eu estou vendo mais as pessoas nessa viagem, não deu pra apagar tudo e ver só a história, os prédios. Além disso, a história é tão politizada. As casas do Herodes, o texto dá a entender que os romanos chegaram, destruíram tudo, a gente passou um inverno longe de casa e pronto, voltamos para a redenção em 48 e em 67 começamos as escavações. Bom, não foi bem assim. Só em Securon, por exemplo, ficamos um bom tempo…

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10 respostas em “Yerushalaim, dia 13

  1. Essa época dos hashmonayim acho que é bem interessante. Um dia quero entender melhor. Acho que fica meio desvalorizada porque não cabe direitinho nos interesses de nenhum dos interessados. Mas os debates eram bem modernos, sobre como preservar os costumes próprios e incorporar os avanços estrangeiros.

  2. Pode ser. As casas parece que eram bem luxuosas, com banhos sofisticados. E como devia ser bom tomar um banho fresco naquela época! Acho que o meu ídolo Flavius Josephus é dessa época, não? Um pouco posterior, mas se refere ao colapso dessa cultura.

  3. O Silvio se latinizou, o Felipe foi helenizado, e Heloisa é um nome franco-godo, então não tem nada errado com o Josephus se chamar Flavius. Como comentei, os problemas que não foram resolvidos até hoje, os hasmoneus já conheciam.

  4. concordo prima,Flavius se romanizou,não tem a ver muito com o cristianismo,o que quiz dizer é que suas historias viraram estorias pois com o passar dos seculos foram adaptadas para virarem `verdades

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