Yerushalaim, dia 12

Ufa. Se eu disser mais uma vez que é intenso vocês me batem, né? mas é.

Claro que tem os momentos “Por que você não vai pra Paris?”, meu pai muito presente. Quando vejo as roupas rústicas, essa língua que tem mais erres do que devia. Mas tem coisas aqui com as quais ele se encantaria também. Chegar na Hebrew University e dar de cara com uma parede com fotos de prêmios Nobel, e num quadro um ponto de interrogação. E você fica olhando para o ponto de interrogação, pensando em quem será o próximo. Em que área. Homem ou mulher? Minha sobrinha ou de outra pessoa? Então acho que nesses momentos nem meu pai iria para Paris.

De manhã fiquei na internet, estava tão bom “em casa”. Fucei a Hebrew, vi que o sistema é como no Brasil, os alunos entram no programa. Mas há programas interdisciplinares, e a universidade tem dado mais ênfase nisso. Há também double majors, isso é comum. Tem também um programa todo em inglês, um ano, um semestre, ou mesmo um mestrado. Ah, o curso de graduação tem 3 anos. Depois querendo v. faz mais 2 anos de mestrado, com ou sem tese. Mais prático.

Diversidade? Tem os judeus do mundo todo, depois tem também os estudantes internacionais. Vi alguns orientais, mas é férias de verão, não tinha muita gente. E tem alunos e professores árabes também. Então acho que deve ser bem bem diverso. Mas não deu pra ter uma visão muito profunda. Falei com dois professores, e conheci outros do depto de comunicação.

O Elihu Katz eu já conhecia de Nova York. Ele é de lá, um dos papas da comunicação, um precursor da área. Mas ainda completamente sharp. Expliquei para ele por que não havia escrito meu artigo sobre os jornalistas. Ele fez duas perguntas. E depois: “Entendi seu problema.” E havia entendido. Uma mente. Disse que há um revival das idéias do Lerner, de empatia. A Limor falou da universidade, de como é, tenure, vestibular, essas coisas. E aí eu contei para ela minhas impressões do país. Acho que precisava falar. E não só escutar, escutar, assimilar. Ela disse que eu estava no caminho mais ou menos certo, e me contou outra coisa:

Existe uma elite que é completamente bilingue. Na universidade, os professores publicam só em inglês, são parte do mundo global acadêmico. Mas o povão, como todo povão, se alimenta pela mídia. E aí a visão que têm do mundo exterior é limitada, cai na paranóia, não é realista. Mesmo os alunos resistem quando os textos são em inglês. Sabem ler, mas exige esforço e aluno reclama. Engraçado que no Brasil senti uma diferença de uns anos para cá, os alunos estão resistindo menos, dizendo que precisam aprender inglês.

Por isso é que eu digo: inglês tem que saber. Se não você fica à mercê dos outros.

De lá me perdi um pouco na cidade mas acabei na cinemateca, não queria ia para a cidade velha. Vi os muros de longe e pensei: não quero estar lá dentro. Achei meio opressivo, sei lá. Queria estar fora. Templo por templo, sou mais a Hebrew. Vi meu profeta do Brooklyn, pra quê mais? Não é isso o que ele é, um intérprete dos tempos, dos livros? Então. Estava saciada.

Na cinemateca o Festival de Cinema. O filme tinha legendas, ufa. Era um documentário sobre o Antunes Filho de Tel Aviv. Suas esquisitices, seus amigos, seus alunos. Mas não era um festival internacional, assim, as pessoas eram locais. Acho que o de S. Paulo vem mais gente de fora. Não sei. Cheguei, comprei o ticket, ganhei o jornal de graça, e li tudo, já mais familiar com o Haaretz no papel, que é diferente do online, do hebraico, de ler em S. Paulo. Afinal, o meio é a mensagem, não? Li já um pouco oblivious a tudo, já criando meu espaço pessoal simmeliano.

E rabisquei essas minhas impressões sobre o país pequeno e grande, antigo e novo. Vamos ver se sai alguma coisa.

Mas a universidade me impressionou. Bonita, pequena, um jardim maravilhoso. E tão nova! E tanta coisa!

ps. esqueci de dizer: aqui na casa dos meus hosts em Jerusalem tem um cachorrinho que é a cara da falecida Puppy. Agora, sem os ciúmes que eu tinha da cachorra, vejo como esses tipos de poddle podem ser bem inteligentes mesmo…

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6 respostas em “Yerushalaim, dia 12

  1. Sabe, essas coisas eu fiz na primeira viagem a Israel. Nessa eu estou curtindo falar com as pessoas no ônibus, em castejano, em francês, em inglês, no que der. Levar cantada desses orientais, é tudo muito divertido, intenso. Estou nas ruas.

  2. Fui para o campus no Monte Scopus, onde há um lindo jardim entre os prédios, com cafés e gramado para deitar. E prédios confusos. Os escritórios têm vistas bacanas, para a cidade antiga.

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