Ramat Gan, dia 11

Oi leitores, podem botar comentário, não precisa ser meu irmão pra se manifestar!

Hoje arrumei minhas coisas, fiz atrapalhadamente a laundry. O lugar é meio detonado, só vão lá os outcasts da sociedade. Mas tem gente que ajuda. Uma máquina não centrifugou, então torci as roupas uma a uma antes de botar pra secar. Ramat Gan. Se Neve Tsedek é Vila Madalena, Dienzengoff é Rua Augusta, Ramat Gan é o Brás. As pessoas meio rústicas, classe operária. Almocei num lugar excelente, a comida aqui é sempre excelente. Shwarma, aquela carne que fica rodando e eles botam no pão sírio, com terrine, e aí você põe os pickles. Sabe uma coisa que eu notei que mudou aqui? Os pickles você ia pondo no sanduíche, e agora te dão um pires e você pega o que quer. Mais higiênico. Mas não falei com ninguém, lugar de homem comer, falando entre eles. “E isso o que é?”, perguntei. Me disseram um nome qualquer. “Good.”, eles insistiram. Pega um pouco, vai gostar, disseram com o olhar. Comi. Gostei. Um molho temperado, parecendo um curry.

Aí ficou tarde, o que levo para Jerusalém? O que deixo? E a chave? Essas coisas de viagem. Lembra de um filme americano cult, que tinha um oriental que tirava fotos dos quartos de motel pois do resto ele lembrava? Pois é, meu dia hoje, Ramat Gan. Falei pouco dela. Bairro. Já conheço o pessoal do hamburger, se não sei alguma coisa vou lá perguntar. Hamburger maravilhosos, carne, carne, me lambuzo toda. Tudo isso de balcão, entende? Então fica assim: se as meninas estiverem se afastando do judaísmo, pago um mês de aluguel em Tel-Aviv, pra elas se divertirem feito umas loucas. Se elas estiverem se encantando demais com o sionismo, tudo bem também, pago um mês de aluguel em Ramat Gan. Nesse calor senegalês.

Isso é que é bom de ter ficado em Ramat Gan. Ver as moças do Nepal, os velhos catando garrafas – no hamburguer tinha um que sempre vinha, deixava um ramo de ervas e pegava as garrafas. Os homens rudes, as mulheres envelhecidas. O vendedor de loteria de cara amarrada, me dando o troco para a laundry. O chaveiro me gritando shloshim, shloshim. Caramba, não sabe que shloshim é 30?

Vai que me dá um ataque sionista, aos 40 anos! Uma vontade de belong incontrolável! Um desejo de new meanings para minha vida. Desculpe o inglês, estou meio pregada! Aí Ramat Gan, contra-ataque.

O dia terminou chegando em Jerusalém, recebida por amigos da Susanna de Boston, relaxei. Andamos pelo bairro, muito bonito, mistura do novo e do velho. Garotos jogando futebol, centros culturais, cafés. Procurei entender as tais linhas, armistício de 48, linha verde, muro. Impossível. Mas a cidade é misturada, há além dos árabes israelenses os árabes com o green card. Que de acordo com meu host privadamente acham ótimo Jerusalem sob administração israelense. Planejei direito essa segunda parte da viagem? Ou vou me embananar toda? Não importa, o país é minúsculo. Vocês não imaginam quanto. Minúsculo. Se te dizem que é super longe, vá a pé. É tudo do lado. O Ahmadinejad também, aqui colado.

Antes, no ônibus para Jerusalém, conheci uma argentina. Difícil acompanhar seu espanhol, uma palavra se enrolava na outra, parecia uma pessoa mais simples, mas não dá pra saber. Veio nos anos 70. Ah, por causa da ditadura? Só percebi a situação no barco, vindo para cá, ela disse. Cada história, mulheres indo encontrar os maridos, gente fugindo, aí me dei conta. É o que dizem mesmo, cada pessoa, aqui, uma história. Tudo muito intenso.

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