Olhem só o mapa que encontrei, no livro “Desenhando São Paulo”, de Passos e Emídio. É de 1951 e já aparece a Rua Paulistanea, na Chácara dos Bispos, perto da Estrada do Araçá. Pra chegar lá, só pela Harmonia pois a João Moura parava na Sumaré, que não existia.
Quem será que morava lá? Rua pequena, de dois quarteirões. Ou será que era só uma passagem? Ou será que aquelas casas aí debaixo são daquela época?
Não vou saber; no que todos os historiadores concordam é que a cidade tem memória curta: constrói e destrói e segue feliz assim, sem olhar para trás. Olhei os idosos que entravam no ônibus que me trouxe da livraria até em casa. Pensei clichês: eles têm alguma memória que eu não tenho, e mesmo o que eu vivo aqui vai ser apagado em breve, e tudo bem, a cidade é assim.
Rua Paulistanea. Que não existia quando meus tararavós sem bisavós vieram para cá. Terreno na Consolação?, conta a lenda familiar. Aquilo é só mato, vou comprar pra quê? Hoje a Estrada do Araçá, bem além da Consolação, ficou bem central, fica desse lado dos rios.
Aí um desses senhores solta essa, do nada: “Aposto que você é americana!” Não sou não, sou brasileira. “Ah, então é do Sul!” Sou daqui mesmo, de São Paulo. “Puxa, não acerto uma!” Acertou sim, meu senhor, eterna estrangeira.
O mais curioso é como o mapa dessa parte da cidade mudou pouco nesses 60 anos……
Esse é o primeiro mapa que já tem essa cara, nesse livro ao menos, que é bem detalhado. Por isso copieie esse. Antes, toda essa região estava vazia. Pelo que entendi, a cidade foi criando bairros, que ficavam meio desjuntos, e aí esses buracos são ocupados. Vila Madalena e Sumarezinho são buracos, ocupados depois que Pompéia, Sumaré e Pinheiros se formam. O Sevcenko (outro livro excelente) acha isso ruim, pois não há um plano geral e é a força especulativa que comanda o processo. Eu fico me perguntando como seria a salubridade de aglomerações mais densas, próximas ao centro.
As maiores monstruosidades em S Paulo fizeram parte de planos gerais, tipo Minhocão, marginais, leis de zoneamento. Sei lá se mais planejamento teria adiantado. Planejamento melhor, sim, mas quem sabia o que era melhor?
Esse mapa esclarece uma dúvida: porque o Alto de Pinheiros é a parte baixa do bairro? É que o nome mudou de bairro – não foi o bairro que mudou de nome.
Uma coisa que atrapalha a memória da cidade são as mudanças dos nomes das ruas, de referências históricas e culturais para personagens obscuros. Acho que a gente devia voltar a usar Estrada do Araçá, Córrego da Traição, Estrada das Boiadas, senão a cidade perde a continuidade.
Estrada do Araçá eu, pessoalmente, já adotei. E talvez eu adote o Paulistanea tb. Se eu fosse professora de história em S. Paulo eu proporia esse projeto para os alunos, com a prefeitura. Botar umas placas pelas ruas com a história da rua, bairro, datas importantes. (E incluindo a revolução de 1924, a nossa Alésia: parece que rebeldes e legalistas se uniram selvagemente contra a população da cidade.)
Eu já tinha adotada Traição. Vamos procurar mais uns bons topônimos de antigamente…
Bom, no sábado eu fui na Rua do Gasômetro. Que continua com o mesmo nome.