O filme é ruim como “O ovo da serpente”, de Bergman. A gente quer ir embora. Quer esquecer que faz parte da mesma espécie de gente retratada na tela. Mas não consegue; fica preso na cadeira. Sai só no final, meio atordoado como se tivesse sido testemunha de algo horrível. E aliviado: eles perderam. Todos eles.
Artigo sobre o filme com detalhes, veja no Estadão. Meus destaques: Delfim Netto jovem, gordo, apalermado. Duvido que soubesse o que fazia na época, e o fato de lhe tratarem como gênio na academia, imprensa e negócios não o ajudou a compreender o que fez.
Outro destaque: o possível líder da operação que matou o empresário. Cruel, falando com os mesmos jargões que usava nos aparelhos clandestinos. Dá medo.
O que ajuda a ver o filme: o diretor intercala cenas de outros filmes, como Lamarca. A gente respira, lembra que tudo o que vemos são interpretações, visões de partes da história que é complexa e múltipla.
Lembra que o filme não é sobre as pessoas que lutaram mesmo pela democracia, no trabalho de formiga de manter a dignidade a cada dia, em seu trabalho, em suas famílias, como cidadãos e como líderes. É sobre gente que usou o Brasil para os seus propósitos mais sórdidos.
E por isso insisto tanto na liberdade de expressão e informação. Pois gente ruim sempre haverá, mas à luz do dia eles se comportam melhor.
O filme está em cartaz no Reserva Cultural, apenas às 2 da tarde. Não precisa chegar cedo pois não lota. Mas vá logo antes que saia de cartaz. Pra você ver o enorme interesse que o Brasil tem hoje em de fato examinar o seu passado…
Curiosidade pessoal: ali mesmo naquela rua onde o empresário foi trucidado – perto da feira de quinta – comecei minha análise interminável, por causa de um colega de faculdade. Não, não foi caso de amor. Era um nazista que me meti a combater, o que me valeu um dos piores anos de minha vida – 1987. Cada um com suas lutas. E com suas armas.