A gente percebe que é professor mesmo quando me meio das férias começa a dar saudade de aluno. Acho que o twitter está me fazendo mal, pois não me veio nenhuma história contável pra escrever. Tem uma, mas é meio dramática demais, meio Viver a Vida demais para o começo do ano.
Aliás, sobre Viver a Vida, outro twitter: a novela não é tão ruim assim. Só que não é novela. Não tem muitos personagens, cada um com seu mundo e sua perspectiva.
A melhor novela que eu vi, nesse sentido, foi Paraíso Tropical, nome meio besta, devia se chamar Copacabana, pois todos os personagens, ricos, pobres, meliantes e candidatos a honesto, viviam no bairro carioca. Cada um tinha o seu universo, desde o ourives inseguro e ingênuo para quem o mundo lá fora era caos incompreensível e não navegável, até o empresário amargo que descaradamente pegava um assessor e botava ele de orelha para seus monólogos infindáveis sobre os próprios equívocos. Eu gostava dessas cenas pois era como se o autor dissesse para a gente: senta aí que eu vou falar. Era tão pouco verossímel que era até bem possível.
Enfim, Páginas da Vida. Ou Laços de Família. Ou Viver a Vida, são todas meio iguais.
Com a diferença que a última não é novela, pois novela eu não sei escrever, esse emaranhado de pessoas que se entrelaça, se junta, se repele, se encontra e se bate. Mas conto eu sei escrever, e a novela é um conto. Tem uma personagem: uma mulher muito bonita e meio sonsa que de repente perde os movimentos do corpo. Isso é conto. E aí há os momentos onde ela aos poucos se encontra com a própria vida. O primeiro dia saindo de casa, vendo que o mundo ainda existe. O mundo sobrevive às nossas tragédias, e isso talvez seja bittersweet, como se diz em inglês, mas sem dúvida sweet.
A primeira refeição que fez sozinha, com uns elásticos ajudando. Não vai mostrar, mas a felicidade da primeira vez que ela cagar e não precisar de ajuda para limpar a bunda – será puro êxtase. O primeiro beijo, esse clássico da novela, com músicas, com zoom out, etc., será especial. Enfim, são momentos encadeados de extrema poesia que não contam exatamente uma narrativa mas expressam uma sensação central, a de redescoberta. Isso é conto, eu sei por que conheço a forma.
O resto, nhenhenhém de Búzios, Helena, gêmeos, cartomante, anexérica, morro, são atores bem pagos fazendo figuração.